Nacional
Crónica de Francisco Guerreiro

Cascais, a vila de betão

Qui, 08/04/2021 - 15:51

Em Portugal, a vila de Cascais vive de um romancismo que é uma miragem.

Em Portugal, a vila de Cascais vive de um romancismo que é uma miragem. Quem, como eu e a minha família, vive em Cascais vê e sente o município a deteriorar-se de dia para dia, sendo o betão o elemento mais comum das políticas públicas.

A correr para terminar mais um mandato, o executivo de Carlos Carreiras, a coligação PSD/CDS, apressa-se a licenciar e destruir grande parte do litoral cascalense. Se não é um novo restaurante na costa entre a Casa da Guia e o Guincho, é uma urbanização de luxo na antiga praça de touros ou mesmo um novo complexo hoteleiro, também de luxo, da Quinta da Penha Longa, parte integrada no Parque Natural de Sintra-Cascais. Mas podemos ir mais além, pois está em consulta pública a mega-urbanização a ser construída no litoral de Carcavelos, na Quinta dos Ingleses, com mais de 51 hectares. Mais um mamarracho ao lado da recente construída universidade Nova School of Business and Economics.

Vemos que este município continua a esquecer o seu interior e investe obsessivamente em unidades para o segmento mais elevado da sociedade, esquecendo-se de milhares de cascalenses que, com a actual crise económica e social, se vêem na perspectiva de ter de mudar de município, pois os preços da vida no dia-a-dia, nomeadamente referentes ao parque habitacional, continuam incomportáveis.

Porém, se olharmos para as grandes infraestruturas, temos ainda investimentos previstos para a expansão da Marinha e para o aeroporto, em São Domingos de Rana. Investimentos estes que vão contra o caminho que deveríamos seguir de descarbonização do município. E, convenhamos, a renaturalização de grandes áreas nos centros urbanos não se coaduna com os microparques e passadiços que vão crescendo pelo município (sobretudo em período pré-autárquicas).

É triste ver que um município com tanta capacidade económica não preserva o que de melhor tem. A vida mundana dos seus munícipes e resiliência ecológica do território.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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