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Crónica de Francisco Guerreiro

Activismo climático na perspectiva de van Gogh

Ter, 25/10/2022 - 15:05

Sopa de tomate foi o elemento usado para “pintar” um quadro de Vincent van Gogh, na National Gallery em Londres, como protesto contra o investimento governamental do Reino Unido na indústria petrolífera.

Sopa de tomate foi o elemento usado para “pintar” um quadro de Vincent van Gogh, na National Gallery em Londres, como protesto contra o investimento governamental do Reino Unido na indústria petrolífera.

Este acto demonstra uma desobediência civil pacífica, mas proactiva, na luta pela sobrevivência da espécie humana. Pode bem parecer catastrofista, mas os dados climáticos são efectivamente aterradores e esta, quase, inevitabilidade de destruirmos o sistema ecológico mundial leva muitos à ansiedade climática e à necessidade de agir de forma contundente para que todos priorizem esta que é a batalha das nossas vidas.

Há, porém, um argumento contra este tipo de activismo que se prende com a possível sensação de impunidade de que os meios justificam os fins. É que pese embora esta acção tenha sido planeada para não danificar efectivamente a pintura, visto que estava protegida com vidro, existe hoje em dia uma voraz rapidez virtual que leva muitos a lerem apenas títulos e a não aprofundarem os detalhes de tais actos. Esta leitura na diagonal, largamente condicionada por um jornalismo cada vez mais acrítico e dirrecionado para o clickbait (sensacionalismo jornalístico), pode efectivamente transparecer que tudo vale na luta por uma determinada causa.

Mais, o debate geral pode-se focar na acção dos activistas e menos no objectivo da acção em si. Este desvio do foco tenderá a ajudar mais quem trabalha para manter o status quo, ao apontar para o “radicalismo” climático, que à mudança efectiva de comportamentos sociais, económicos e políticos.

Em suma, concordemos ou não com esta acção de protesto uma coisa me parece clara: é de esperar mais. Pois o actual modelo económico e social continua a bater recordes nas emissões de gases com efeitos de estufa e, consequentemente, teremos mais desastres naturais ligados a esta crise ecológica o que gerará, inevitavelmente, mais acções de contrapoder.

Texto: Francisco Guerreiro 

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