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Crónica de Carlos Leitão

Puritanos, brindemos!

Qua, 28/07/2021 - 15:10

Puritanos de todo o país, uni-vos que o Rangel embebedou-se! Faça-se uma manifestação, uma petição, ou então partilhemos o vídeo até ao infinito e mais além, para que todo o Portugal veja que um eurodeputado também bebe copos.

O homem é pequenino, perdeu peso, e a estaleca já não é a mesma, mas nada conta para a sede dos salazarinhos que habitam os corpos missais, os mesmos que não assinam nada por causa da santa protecção de dados e que não querem cá vacinas.

Num ecomundo onde já não cabe um bife, uma noite bem passada com amigos e festejada a copos é heresia imperdoável. A hipocrisia é tal que a exemplar portugalidade, de confortos garantidos, aponta o dedo inquisidor e condena o desgraçado à fogueira. Antes, porém, todos alinhados para apedrejar o prevaricador maldito que se embebedou!

Se, em vez de colocarem o vídeo na Internet, as duas senhoras se juntassem a ele, ganhariam tempo a serem mais felizes. Filmavam-se a si mesmas, riam-se mais de si do que dos outros, e chegariam facilmente à conclusão de que os telhados de vidro estão por cima de todos nós. Assim sendo, brindemos juntos que alguém filmará para recordar.

Um país de puritanos tolera, não respeita, mas anda doidinho para enxovalhar, de preferência publicamente. Arrasta pelo chão a ironia dos fascistas de cervejaria, onde não cabem deputados que bebem copos, mas antes a mesquinhez tacanha dos que bebem às escondidas ou apenas não sabem usar o smartphone. É mais ou menos como a prostituição, faz o que te digo, não faças o que eu faço.

Mas é sempre tempo de celebrar a democracia, e nesse sentido um espelho é peça fundamental. À falta dele, vergonha na cara pode ser solução para dar de beber à liberdade. E lá para o início do Outono, quando se chamarem bêbedos e abstémios a votar, esqueçam as vossas carraspanas do verão que eu não conto a ninguém, e lembrem-se que, se a malta se descuida, um dia destes até para postarem um vídeo vão precisar de um certificado digital.

São os tempos livres e puritanos de um mundo desalinhado.

Texto: Carlos Leitão, fadista

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