Nacional
Cristina Ferreira

Fomos à aldeia onde ela cresceu e deu os "primeiros beijos às escondidas"

Qua, 09/09/2020 - 15:00

Cristina Ferreira sempre morou numa zona mais escondida. Fomos à aldeia onde a apresentadora da TVI cresceu, nos arredores da Malveira, a poucos quilómetros do local onde ainda vive.

Três quilómetros separam a casa dos pais de Cristina Ferreira e da própria apresentadora, em Casal de Vale de Bois, do Jerumelo, terra dos avós. São metros e metros de campo, que há 37 anos eram dominados pelo som das folhas secas, pelos guizos, pelo cheiro da terra húmida. Ainda são. Foi aí, nessa vila do concelho de Mafra, que Cristina Ferreira passou a infância, viveu os "bailaricos de setembro" como uma "primeira discoteca", fez amigos que ainda hoje mantém, dançou "os primeiros slows" e deu os "primeiros beijos às escondidas, quando a mãe ou a avó iam para casa". Era uma "pequena loira de ganchos na cabeça que começava aí o seu percurso profissional", escreveu a própria no seu blogue.

Tinha seis anos quando entrou para a escola primária onde a professora Helena chegava todos os dias de carro vermelho para ensinar o bê-á-bá. O edifício, com duas salas e mato à volta, está agora desativado e encerra entre paredes as memórias de infância da Diretora de Entretenimento e Ficção da TVI.

Quem aí ainda vive frisa que, no início dos idos anos 1980, "a canalha era muita" e a "animação" uma constante. "Os miúdos vinham todos a pé aqui das terras vizinhas para virem estudar aqui", conta à NOVA GENTE um dos habitantes, que preferiu manter o anonimato. Cristina Ferreira era apenas mais uma a percorrer aquela distância passo a passo. A seu lado tinha, quase sempre, o amigo que recebeu o nome de Tintim, dadas as semelhanças com a personagem de banda desenhada do belga Georges Prosper Remi. "Percorri todas as poças que a chuva deixava com os meus botins de borracha. O último quilómetro era feito sozinha, por entre o pinhal, numa estrada de terra batida", dizia, um destes dias, a estrela da TVI.

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Cristina Ferreira "era uma pouco maria-rapaz"

"Ela fazia as suas trafulhices, como todos os miúdos. Depois de saírem da escola, iam todos para o pátio de uma casa brincar e subir a uma figueira", contou gente da terra a uma revista semanal. "Ela era uma pouco maria-rapaz", acrescenta uma vizinha.

Cristina ainda hoje recorda o perfume da professora Helena e os dias passados na catequese, as favas que a alimentaram dias a fio, a única palmada que o pai António lhe deu na vida, a dedicação que a mãe Maria Filomena sentia pelo marido e que a levou a desistir de tudo por amor, as apostas na bolsa do tio Manel, analfabeto, ou as "contas intermináveis" que o avô Chibato a mandava fazer. Era todas de somar. "Ainda bem, porque as coisas que temos de subtrair são as mais difíceis, queremos afastá-las da nossa vida", confessaria a apresentadora.

"Quando regresso, todos os dias, é nesse silêncio que me encontro"

À infância de Cristina Ferreira adiciona-se ainda a passagem pelas feiras semanais. Era numa destas que os tios vendiam roupa e os pais tinham um restaurante, onde chegaria a trabalhar quando acabou o curso de História. "O lugar das estacas, o som da caixinha quando se fecha depois de lá pôr as notas, a forma como se arrumam os napperons... Seria feliz numa feira", admitiu várias vezes. E num restaurante? "Costumo dizer que posso ser empregada de um café e passados três anos sou dona dele, não tenho dúvidas disso", respondeu.

É para Casal de Vale de Bois, onde vive com o filho, numa casa próxima à dos pais, que a estrela da TVI regressa todos os dias. Lisboa, que na sua infância representava "o mundo", não faz parte do seu universo interior. "Gosto do silêncio. Ou dos sons. Aqueles que me acalmam. Dos pássaros, do vento nas folhas, da chuva na terra, dos guizos, dos rebanhos, de uma ou de outra palavra do pastor. Quando regresso, todos os dias, é nesse silêncio que me encontro", confidenciava, em 2016, no Daily Cristina. Isto não mudou.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: DR e Reprodução Instagram

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