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Covid-19

Casamentos adiados e noivos desolados. Psicóloga explica como combater a frustração

Qui, 02/04/2020 - 19:40

A pandemia de Covid-19 está a levar muitos noivos a adiarem o casamento. A NOVA GENTE falou com algumas noivas que estão inconsoláveis. Para a psicóloga Sofia Moura há que saber aceitar a realidade.

São muitos os casais que passaram meses, alguns até anos, a sonhar com o dia do seu casamento. Pouparam, planearam, investiram e agora veem-se obrigados a adiar o grande sonho, devido à pandemia de Covid-19. Numa altura em que o mundo está a lidar com uma nova realidade, que exige o isolamento social para tentar evitar o contágio do novo coronavírus, os noivos de 2020 estão a viver com grande tristeza e ansiedade a decisão de cancelar ou adiar o enlace.

Os meses de março, abril e maio são os mais afetados. A NOVA GENTE falou com algumas noivas deste ano difícil que não estão a aceitar da melhor forma a situação. Sofia Resende é uma delas. A jovem e o noivo casavam a 27 junho e decidiram adiar a festa para setembro. Ambos bombeiros do concelho de Ovar, que está atualmente cercado devido à enorme propagação do vírus, Sofia e o noivo não tiveram outra opção.

«Foi muito difícil... Já tínhamos tudo preparado. No início estávamos um pouco em negação, achámos que por faltar três meses não era uma hipótese adiar... Mas não foi preciso ponderar muito para tomar a decisão. Temos muitos convidados de Ovar que são profissionais de saúde como nós. Muita gente está sem trabalhar e consecutivamente sem ganhar. Não queríamos que o nosso casamento fosse mais um peso numa altura que os nossos convidados precisam de se recompor financeiramente e psicologicamente. Sabemos que chegaríamos à data e ainda haveria medos... Tem de ser um dia feliz, para celebrar o amor, e assim será daqui a meio ano, esperemos», afirma.

O casal vive atualmente em Santa Maria da Feira, mas tem toda a família em Ovar, que está dentro do cerco sanitário. «Não há ninguém ainda infetado na família, está toda a gente em isolamento social, mas é difícil lidar com tudo. O medo por eles que estão em Ovar, por nós com esta profissão... O pai de dois colegas nossos foi a primeira vítima mortal da Covid-19 aqui em Santa Maria da Feira e eles estão de quarentena, assim como mais colegas que tiveram contacto direto... Mas tudo vai acabar bem!», diz confiante.

 

 

 

Praticar o «desapego», diz psicóloga

Um casamento adiado é um projeto adiado e, segundo a psicóloga Sofia Moura, há que aceitar a realidade atual. «Esta desilusão remete-nos para a dura realidade de que os projetos que temos para nós, podem não estar em sintonia com aquilo que a vida quer para nós, gerando-se neste confronto fortes sentimentos de tristeza e desilusão», começa por dizer-nos.

«Há que aceitar, exercitando o desapego daquilo que era para ser, sabendo que já não vai ser, e isto dói. Se dói temos de deixar doer. Mas, em paralelo, temos de ir construindo um silêncio mental, não criando diálogos internos com os pensamentos que nos criam emoções negativas. Temos de quebrar este ciclo, abstendo-nos de alimentar estas conversas connosco próprios e com os outros. Este constitui o exercício do desapego.»

«Este silêncio vai trazer-nos a quietude que nos permite estar no presente, no aqui e agora e vivenciá-lo com total entrega, em amor e em partilha, em tudo o que fizermos. Ver tudo aquilo que temos e não só aquilo que perdemos. Observar e sentir essas bênçãos. Sentir gratidão é um excelente antidoto para a tristeza!

Sofia Moura relembra ainda que vivemos numa fase de reflexão, de emoções e muita paciência, em que o amor deverá falar sempre mais alto. «É preciso não esquecer que esse casamento tão sonhado não vai deixar de acontecer, só não vai ser agora. Portanto é preciso continuar a namorar!»

Quando o amor é posto em causa

«Joana» quis manter o anonimato ao falar com a NOVA GENTE. A jovem e o noivo pouparam durante seis anos para poderem casar a 21 de maio de 2020. Enfrentar a dura realidade tornou-se no maior desafio para ambos.

«Foi muito dificil mesmo. Ter de cancelar é o fim de um sonho. O que me custou mais foi acreditar que seria possível e as pessoas à nossa volta pressionarem-nos para adiar. Familiares chegaram ao ponto de dizer que se eu não cancelasse que não iam à cerimónia com medo deste vírus. Embora eu tenha de compreender isso, custou-me ouvir, senti-me obrigada a fazê-lo», revela com tristeza aquela que optou por cancelar o enlace, em vez de remarcar.

«Acabei por ter de tomar essa decisão. Chorei muito. As pessoas ligavam e diziam para cancelar e a cada chamada eu chorava. A única pessoa capaz de sossegar o meu coração foi o padre... apesar de me dizer que não faria a missa e que não haveria outra solução. A palavras que utilizou foram doces e foi bom ouvi-lo», conta.

«Doeu muito fazer todos os telefonemas a cancelar. O meu noivo não os quis fazer. Mas acabei por sentir que a decisão de cancelar tinha sido um bocadinho nossa. O padrinho de casamento também vive na Suíça e sem ele não fazia sentido casar», diz a jovem, que não estava à espera de receber críticas de alguns convidados.

«Chorei o dia inteiro. Foi muito difícil. As pessoas no dia seguinte, ligaram-nos vezes sem conta a perguntar a nova data. E a pressionar para marcarmos a nova data. Pessoas que estão no estrangeiro reagiram mal, porque perderam o bilhete de avião e dizem que não podem voltar noutra altura do ano. Conclusão: não tem sido nada fácil.»

«Joana» confessa-se «triste e magoada» com alguns convidados e, para já, não pensa em remarcar o casamento, até porque já colocou o seu amor em causa.

«Não quero pensar nisso agora. Estou a viver ainda esta "dor". Já duvidei de uma relação de nove anos, em que pensei que Deus não faz nada por acaso e se isto está a acontecer é porque não é o tal... Provavelmente irei deixar o casamento para o ano de 2021, quando estivermos novamente preparados. Mas, neste momento, e pela pressão das pessoas, eu não casava. Sinceramente. Acho uma tremenda falta de respeito as pessoas darem opinião sem serem solicitadas, e "atacarem"os noivos quando são os mais lesados nisto tudo. Sinto que não merecem sequer a festa que andei seis anos a poupar para lhes proporcionar. E se não tivesse tudo pronto e o vestido feito, casava pelo civil e fazíamos uma viagem. Tem sido uma desilusão grande», desabafa.

 

Texto: Filipa Rosa; Fotos: D.R.

 

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