Nacional
Catarina Furtado

"Mulheres de 40 ao poder"

Sex, 24/08/2012 - 10:24

A figura tida como referência da televisão portuguesa conta à NOVA GENTE o que sente ao chegar aos 40 anos.

A idade assusta-a?

Assustar não é a palavra certa. O avanço da idade só me assusta quando é lembrado pela perda de capacidades mas por enquanto, confesso que tirando o facto de já não aguentar grandes noitadas, não me posso queixar. Não posso dizer que goste da ideia da inevitabilidade do envelhecimento mas acho que o facto de me sentir bem comigo a todos os níveis tem trazido uma passagem mais harmoniosa a cada ano coleccionado. Também acho que cabe a cada um de nós lutar um bocadinho contra a força da gravidade física e mental. Darei o meu melhor para manter o primeiro lugar no pódio “ a mãe mais bonita do mundo” segundo a classificação dos meus filhos, claro!

Sente que o tempo tem passado a correr?

Sinto que tem voado! O que é bom porque quer dizer que a nível profissional por exemplo, tendo já feito tantas coisas e tão diferentes umas das outras, nada foi penoso. Todas as aprendizagens, projectos e experiências foram muito positivas. A nível pessoal também sinto que tem passado muito depressa porque eu vivo todos os dias com imensa vontade de os aproveitar da melhor forma. À noite penso sempre qual foi o “hit” desse dia. E agradeço diariamente . Os sete anos de casamento, os seis anos da minha filha e os quatro do meu filho passaram num abrir e fechar de olhos porque têm sido verdadeiramente fantásticos.

 Do que sonhava fazer em criança, o que ficou para trás e o que falta fazer?

A dança, sobretudo a coreografia mais na adolescência. Mas o prazer que tenho ao ver alguns dos meus grandes amigos e não só, a exercerem com tanto talento, vai compensando a nostalgia. É como apetecer um prato muito calórico e inimigo da saúde mas pedir um bastante mais saudável e passar o jantar a olhar o prato do vizinho (calórico!), ou seja, não comi mas vivi a experiência imaginando que o estava a comer. E no final do jantar acabo por ficar satisfeita comigo. A verdade, é que nunca poderia conciliar uma profissão de bailarina ou coreógrafa com a área que escolhi (ou que me escolheu..).

Que recordações guarda dessa infância?

As melhores. A presença forte dos avós, as fugidas de bicicleta, as mãos macias da minha professora da escola primária, as corridas de caricas nos passeios do Bairro Alto, a descoberta dos caminhos de Portugal com os meus pais numa 4L, a entrada tímida nos corredores da Escola de Dança do Conservatório Nacional, as colecções de tudo e mais alguma coisa (borrachas, autocolantes sabonetes...), as noitadas em que os meus pais ficavam a falar de política e eu e os meus amigos Pedro e João Gomes (filhos do Adelino Gomes) explorávamos o mundo da ficção, a responsabilidade boa que eu sentia ter na educação da minha irmã Marta que mais depressa me obedecia a mim do que à minha mãe....

Ao fim de 40 anos adquiriu rotinas… Quais são e como lida com elas?

Comer um pequeno almoço generoso com todo o tipo de cereais numa grande tigela e dizer várias vezes às pessoas de quem gosto que gosto delas. Lido muito bem com as minhas rotinas que não são muitas já que a nível profissional tenho uma vida muito pouco rotineira.

Pode dizer-se que é uma profissional realizada que também é uma “dona de casa”?

Não, porque tenho imenso respeito pelas verdadeiras donas de casa a quem muitas vezes é desvalorizado o trabalho e o esforço sobretudo quando têm que coordenar com a educação dos filhos (o que acontece na maior parte dos casos). Sou muito organizada na gestão do meu tempo e tento dar apoio à lida da casa mas o João e a minha empregada têm mais tarefas nessa matéria. A mim cabe-me outras e na vida dos meus filhos estou a 100 por cento.

Repetidamente recebe elogios pela sua beleza. Faz sacrifícios para a manter?

Sacrifícios não faço mas sou muito disciplinada e por norma prefiro poder comer de tudo mas em menos quantidade do que aparentemente me poderia apetecer (quando penso “vou repetir” deixo passar uns segundos e desisto!). Obrigo-me a comer muitas vezes ao dia. O organismo já se habitou a esta rotina. Não abuso nos doces e não bebo às refeições. Agora prometi a mim mesma que com a entrada nos 40 vou passar a ir três vezes por semana ao ginásio!

E a boa forma, bem como os cuidados com a saúde… São uma prioridade?

A dança educou-me bem apesar de terem passado já muitos anos. Gostava muito de viver uma longa e saudável vida como acredito que a maior parte das pessoas gostaria. Estas férias visitámos uma aldeia no Pacifico onde foi feito um estudo por ali existir um número muito elevado de pessoas com mais de 100 anos. Ficou provado que a alimentação leve à base de legumes e o facto de as pessoas serem muito unidas entre famílias influencia na longevidade. Fiquei a pensar nessa questão da união familiar: filhos a tomarem verdadeiramente conta dos pais e por sua vez dos avós, dá felicidade e anos de vida! Sem intrigas feias e tantas vezes evitáveis e sem que a idade de uns represente um fardo para outros!

Dá muita importância à moda?

Alguma mais por curiosidade do que para a seguir religiosamente até porque algumas tendências às vezes não me favorecem. Sou fiel a algumas lojas e ao meu criador de eleição Nuno Baltazar. Não compro muita coisa e adoro reutilizar de diferentes formas roupas mais antigas. Gosto sobretudo de ver revistas de moda com a minha enteada Maria e partilhar comentários e gostos.

Tem truques sobre como se deve vestir uma mulher que entrou nos 40?

Seguir o bom senso e ouvir algumas sugestões de pessoas de bom gosto que são minhas amigas. Acho que hoje as mulheres de 40 são mais seguras, sabem o que querem e tratam-se muito bem. Actualmente é possível estar bem cuidada sem gastar muito dinheiro. Tenho muitas amigas, infelizmente com orçamentos cada vez mais reduzidos e que conseguem fazer acrobacias fantásticas sempre em poupança e com resultados muito entusiasmantes. Conta muito também querer estar bem. Temos cada vez mais portuguesas de 40 anos irresistíveis! Balzaquianas ao poder!

Ser mãe mudou a sua vida? De que forma?

Mudou radicalmente. Não será muito diferente da maioria das mães. Fiquei com muitos mais medos. Sempre fui muito radical na forma de encarar a vida, querendo aprender e experimentar muita coisa para que a vida não me passasse ao lado. Hoje sou mais cautelosa por causa dos meus filhos. Tenho medo do que me possa acontecer e do que lhes possa acontecer. Quando viajo por esse mundo em desenvolvimento fora levo o coração apertado e antes não sentia esse aperto. Mas sinto-me muito mais completa!

Qual a importância e presença dos avós na educação (e dia-a-dia) dos seus filhos?

Como os meus avós foram fundamentais para o meu crescimento, sempre desejei que essa passagem de conhecimento e mimo fosse também feita entre os meus pais e os meus filhos. Fico muito feliz quando os vejo juntos e quando os oiço dizer “ tenho saudades dos avós”.

Michelle Obama afirma que um dos principais desafios na educação das crianças hoje em dia é ter-se tempo para partilhar com elas e conseguir conhecê-las bem. Concorda?

Acho que educar é um quebra-cabeças e um desafio que tem tanto de intuitivo como de capacidade para ouvir os outros. Não existem educações perfeitas e o que funciona para uns filhos pode não funcionar para outros. Os meus pais trabalhavam muito e fisicamente não estavam se calhar tão presentes como eu e o João (apesar da vida agitada e pouco rotineira) estamos com os nossos filhos. Mas o essencial foi passado. E é no essencial que me concentro: valores e ética, respeito e capacidade para dar valorizando a solidariedade e o trabalho.

Segue alguma/s regra/s para educar os filhos?

São permanentemente lembrados de que têm de valorizar os momentos que passamos, os brinquedos que recebem e quem os ofereceu, as experiências que vivem. Têm de ter a vontade e a capacidade de partilhar. É uma regra estimulada. Tudo o que eu e o João temos e vamos podendo proporcionar aos quatro (o Francisco e a Maria são filhos do coração) é fruto do nosso trabalho. Eles têm de estar conscientes de que a vida pode mudar a qualquer momento e de que as condições em que vivemos também mas que a união entre nós será sempre o nosso porto de abrigo.

No trabalho que desenvolve sente de alguma forma alguma identificação com o seu pai?

Sinto, claro. Na urgência de contar o que vejo de tão diferente que é da realidade portuguesa com o rigor a que o meu pai nos habituou (falta de meios e condições absolutamente essenciais de sobrevivência, como o não acesso a cuidados de saúde e educação básicos, água e luz). Nenhuma informação deve ficar por confirmar. A justiça e a injustiça que se nota na maneira como certas pessoas, certos povos vivem, as desigualdades sociais são matérias de interesse comum e o relato rigoroso das mesmas é um ponto de identificação. Depois existem evidentemente temáticas que cada um aborda e que não são partilhadas, no caso do meu pai a guerra colonial e no meu caso as questões que têm sobretudo a ver com a saúde materna e neonatal, a igualdade de género etc...

E os seus filhos, já lhe dizem o que querem ser?

O João Maria vai seguramente “conduzir foguetões” e a Maria Beatriz por enquanto quer ser bailarina ou pintora.

No meio da correria entre gravações e a ligação com os filhos, há como que um espaço que está reservado para o romance?

Claro que sim. E a consciência para o facto desse espaço ter de existir obrigatoriamente também é muito importante.

Acontece ter que se ausentar com alguma regularidade, como lida com a distância da família?

Com um enorme sentido de dever. É uma obrigação fazer o melhor possível o meu trabalho e uma necessidade real ter de ir para os países em desenvolvimento e contar na primeira pessoa aquelas realidades. Sei que acrescento muito mais ao mundo da minha família quando lhes trago as histórias de vida de tantas pessoas que vou conhecendo e que me marcaram para sempre. A saudade neste caso é saudável.

Tem sido notório o apoio entre a família. É possível desligar os momentos importantes dessa cumplicidade familiar?

Confesso que existem situações tão duras e intensas que tenho vivido ao longo destes sete anos de vida do programa “Príncipes do Nada” que só consigo partilhar com os meus dois amigos e companheiros de sempre, o realizador Ricardo Freitas e o repórter de imagem Hugo Gonçalves. Vivemos situações que nunca conseguimos contar integralmente à nossa família e de vez em quando tenho necessidade de desabafar com eles. Faz parte.

Quando se lembra da sua estreia na televisão em 1991, quais as principais mudanças que encontra?

Ingenuidade e o facto de não ter consciência do poder da televisão, no bom e no mau sentido.

Quais é que considera terem sido até agora os seus melhores momentos no trabalho?

Por ordem cronológica: Na SIC, "Caça ao Tesouro"; na RTP, "Operação Triunfo", "Príncipes do Nada", "Cidade Despida", "Quem Tramou o Peter Pan", "Com Amor se Paga". Mas os anos em que fiz rádio (Correio da Manhã Radio) marcaram-me muito. E as incursões pelo teatro têm sido fundamentais para o meu crescimento, como por exemplo, a esteia no Teatro Aberto com a peça “Quase” , a junção das funções de co-produtora e actriz na peça “Loucos por Amor” e a última, com encenação do João “Transacções”.

Faz uma gestão regrada (planeada) do seu percurso profissional ou, de alguma forma, o caminho tem-se feito somando as oportunidades que surgem?

Não fiz nada planeado mas sou muito intuitiva e tenho um parceiro fantástico que ao meu lado tem feito esta caminhada que já vai em 22 anos! O meu amigo e agente tem sido uma peça preciosa porque partilha dos mesmos valores que eu e do mesmo conceito de carreira que passa por muito trabalho, respeito, seriedade, noção dos pés bem assentes na terra, aversão à exposição de tudo e mais alguma coisa e à ambição destemida. Ambos elegemos a mesma palavra: coerência.

Tem uma relação próxima com os colegas de trabalho?

Tenho uma adoração pelo trabalho de equipa e respeito muito o trabalho de cada elemento. Todos são importantes e as hierarquias para mim passam muitas vezes despercebidas. Ao longo destes anos todos nunca tive problemas com ninguém.

Quais são as amizades que nasceram nesse contexto e que ficaram para a vida?

Algumas. Sou muito feliz com os amigos que tenho e não preciso de mais. Da dança, do liceu Passos Manuel, da rádio, da TV e do teatro, ficaram para sempre os que escolhi e os que me escolheram para a vida!

Já se sentiu obrigada a fazer algum trabalho que preferia não ter feito?

Nunca e agradeço sempre aos diferentes directores que fui tendo mas também sei que eles sempre souberam que podem contar comigo a qualquer hora e durante o período que for necessário para tudo o que entenderem que achem que eu posso ser eficaz. Conhecem-me bem e isso ajuda. Acredito que as pessoas em televisão não são tão eficazes quando não se identificam com os projectos. Os meus directores sabem que gosto de trabalhar muito e por isso nunca existiram nem tempos mortos nem mal entendidos. A confiança que depositam na minha forma de trabalhar, também com as produtoras, tem sido muito importante para a minha evolução. O ultimo programa por exemplo, “Com Amor se paga” foi-me entregue pelo Hugo Andrade que me deu carta branca para o desenvolver seguindo os meus critérios com a produtora Freemantle. Foi muito gratificante dar a conhecer pessoas que nos deixam comovidos e inspirados por terem uma capacidade incrível de praticar o Bem.

Não é tão mediático o seu trablaho enquanto letrista ou escritora. Tem planos para breve nesta matéria?

Nunca tive planos nessa matéria porque fui sempre desafiada por pessoas que acharam que eu estava à altura do pedido: João Gil, Anabela, Avô Cantigas, Lúcia Moniz ,mas confesso que não me sinto de todo uma letrista . Respeito e admiro muito o trabalho de pessoas como, por exemplo, o João Monge entre muitos outros. Escritora muito menos. Faço algumas tímidas incursões nessa área mas não sinto que tenho autoridade. Os documentários que vou fazendo colmatam esse gosto pela escrita.

Como vê a actual situação da RTP?

Com preocupação enquanto cidadã. Como profissional acho que por uma questão de ética não me devo pronunciar.

Quando sucedeu, como se sentiu de regresso à RTP após vários anos na SIC? Como foi recebida?

Apesar de me ter estreado em televisão nos écrans da RTP eu não tinha um contrato com a RTP mas sim com a produtora externa. Quando passei da SIC para um contrato de 2 anos com a RTP senti-me muito bem recebida. Os contratos vão sendo revistos e assinados conforme os interesses de ambas as partes mas a sua existência tem sempre uma duração que não tem passado dos 2 anos. Continuo a sentir-me muito bem com a RTP.

A RTP é uma casa necessariamente diferente das outras?

É importante lembrar e relembrar que a RTP é a única estação que naturalmente tem limites relativamente a determinados conteúdos e que do meu ponto de vista não cabem no conceito de serviço público. Mas também é verdade que a partir deste conceito há manipulações abusivas e críticas em que a RTP funciona como uma espécie de “saco de boxe” dos insatisfeitos do costume. Existe muita demagogia à volta da RTP.

Na SIC foi uma das figuras mais importantes. Sente que as televisões valorizam as suas “estrelas”?

Sinto que sim, faz parte do “pacote” daquilo que é fazer televisão e “vender” televisão. Acho no entanto importante que as “estrelas” saibam bem que tudo é efémero, que o brilho vai variando e que ninguém é insubstituível, desta forma podem melhor ajudar a sua estação.

Tem sido uma divulgadora de novos talentos. É algo de importante para si?

Muito mesmo. Sentir-me útil a fazer televisão, deixando qualquer coisa de concreto feita ou ajudar a realizar sonhos que envolvam talento e trabalho ou então despertar consciências e informar são tudo “poderes” que me fazem adorar a minha profissão. Para mim é mesmo importante que a televisão seja bem utilizada e que passe valores que influenciem positivamente as novas gerações e que ajudem a “criar” melhores cidadãos.

Como lida com o assédio do público?

Muito bem. Não sinto verdadeiramente essa palavra. Ela é aplicada a outro tipo de figuras publicas.

As missões humanitárias têm sido uma bandeira que tem levado bem alto. Hoje, mais do que nunca este trabalho faz falta? Ou sente que o trabalho feito tem melhorado consideravelmente as condições do ser humano?

Ser Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) há 12 anos tem sido a minha maior missão ( tirando a maternidade). É um privilégio poder dar voz a quem não a tem e mostrar, alertando, as condições às vezes desumanas em que vive grande parte da população mundial, sobretudo as mulheres e as crianças. Acredito que a falta de informação gera indiferença e por isso também acredito (e com o exemplo da receptividade aos episódios dos "Príncipes do Nada" tive essa prova) que se estivermos mais conscientes do mundo em que vivemos podemos, todos juntos actuar. Endireitar e equilibrar o mundo, fazendo uma melhor distribuição de todos recursos são tarefas que devem ser executadas pelos governos, sociedade civil, ONG's e filantropos.

Portugal é um país de gente generosa? E de voluntários?

Acho que Portugal é muito espontâneo quando se prontifica a ajudar e muito emocional. Quando é “desafiado” a juntar-se a uma causa responde com grande generosidade. Acho que podemos ser no entanto mais organizados na forma como nos disponibilizamos porque não podemos confundir a nossa efectiva responsabilidade enquanto cidadãos do mundo com o conceito de caridade. Ajudar no concreto através de bens, por exemplo, é importante mas a capacidade de se ser generoso não se esgota aí. A ajuda ao desenvolvimento, por exemplo, passa pela insistência em politicas que coloquem Portugal ao lado de outros países com obrigações. Em situações de crise dos países desenvolvidos, são os países em desenvolvimento que acabam por sofrer mais. Devemos ser mais participativos na exigência perante os nossos políticos. Têm de ser tomadas medidas (às vezes leis) que protejam e promovam efectivamente os mais vulneráveis ( mais uma vez as mulheres e as crianças) cá dentro e fora do país. Tenho conhecido muitos voluntários portugueses extraordinários

Sendo um dos rostos mais célebres, conhecido por promover a solidariedade, como olha para a actual situação do país?

Estou muito preocupada com o desemprego e com o agravamento das condições de vida de muitos portugueses mas também acredito que daremos a volta. Com capacidade de trabalho, criatividade e solidariedade. Custa muito reparar que os nossos recém formados, cabeças pensantes, estão a deixar o nosso país mas ao mesmo tempo também penso que Portugal não pode correr o risco de se isolar. Não somos caso único nas dificuldades. E somos um país fantástico! Nestas alturas muito difíceis temos que nos unir ainda mais e conseguir olhar para além do nosso umbigo. Dar e receber.

Há muitos anos que lida de perto com grandes personalidades internacionais das mais diferentes áreas. O que guarda desses contactos?

Lições de vida que me fazem relativizar muitas coisas. A sociedade ocidental é muito virada para o lado material. Ao longo dos anos tenho conhecido muitas pessoas, que me ofereceram perspectivas sobre a vida bem diferentes e que têm sido determinantes para a forma como encaro cada dia. Nada está garantido. Hoje, felizmente tenho saúde e trabalho mas daqui a um ano, quando acabar o meu contrato, por exemplo, não sei minimamente o que irá acontecer mas sei que terei de ir à luta e sei que terei de valorizar sempre aquilo que é o mais importante. Também acredito que temos uma enorme responsabilidade nas coisas boas e más que nos vão acontecendo. Se formos negativos e invejosos, picuinhas e mesquinhos, racistas e pouco pró activos recebemos de volta o que isso significa.

Como gosta de passar os tempos livres? E as férias?

A brincar com os meus filhos, na praia e no campo e a visitar cidades com história. Adoro percorrer o nosso país, as nossas aldeias, o nosso património tantas vezes desvalorizado. Mas atenção: cultura não é só património!

Como chegou a acontecer no passado, nos próximos tempos vai voltar a apostar no trabalho enquanto atriz ou os planos prendem-se com uma maior dedicação à apresentação?

Representar é para mim essencial. Ter protagonizado a série “Cidade Despida” foi de facto das melhores experiências da minha vida pelo trabalho árduo que significou mas sobretudo pelo muito que descobri enquanto atriz. Quero muito voltar a representar em teatro e televisão mas tenho de gerir com a direcção da RTP os timings. Nos últimos anos tenho feito dois programas ao mesmo tempo (sendo que dos "Príncipes do Nada" sou também co-autora e por isso exige ainda mais) e apesar do esforço tem sido possível mas é muito difícil de conciliar as duas.

Sente saudades da dança, arte na qual se formou?

Sempre. Mas vou dançando muito e quando tenho nas mãos um formato que permite, lá mato um bocadinho as saudades.

Quando trincar a vela do bolo de aniversário, qual vai ser o seu desejo?

Trinco a vela debaixo da mesa, dou um grito e peço um desejo. Mas não o partilho, senão não se realiza, não é o que dizem? O segredo é pedir desejos que estejam ao nosso alcance para não ficarmos decepcionados...

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