“O meu reino por um amigo”
“Estava muito sol, aquele que deixa tudo à nossa volta, atrás e à frente dos nossos olhos mais brilhante, mais apetitoso quando é caso disso e mais convidativo quando esconde um mundo de mistérios. O Castelo do Rei Rujão era irresistível mas ainda mais quando o sol batia nas suas paredes grossas à prova de todos os ataques do mundo humano e animal. Como seria bom entrar lá dentro, mesmo que devagarinho e bisbilhotar cada canto e recanto... Este era o desejo secreto de todos os animais do Vale dos Pêlos e das Penas. Mas nenhum ousava sequer aproximar-se do Castelo. Sabiam bem o que poderia acontecer.... É que há muitos anos, não sabemos bem quantos porque os animais têm umas contas diferentes das pessoas, num dia de muito sol, um tigre armado aos pingarelhos que é como quem diz, em forte ou em leão, foi até à porta principal do Castelo e fez notar a sua presença, gritando para o Rei Rujão:
“Sou um curioso e queria entrar no teu Castelo. Prometo que não te roubo nada!” Mal tinha acabado de gritar a palavra, ou o rugido “nada”, já as suas patas dianteiras estavam dentro do Castelo e segundos depois, todo o seu imponente corpo. Como que sugado, aspirado, devorado. Até hoje.
E hoje, voltou a estar aquele sol que deu a coragem de leão ao Tigre Dourado. O que será que iria acontecer? Sabe-se que o Rei Rujão, um leão de pêlo exagerado e coroa feita de pedras preciosas apanhadas no fundo dos fundos das águas puras do Rio Desliza, o rio que atravessa o Vale, é pouco sociável, antipático até. Solitário, parece não saber mostrar os dentes para sorrir, só os deve utilizar para trincar e roer banquetes infindáveis dos melhores pitéus do mundo. Cada vez que sai à rua fica duas vezes mais inchado e a capa que ata ao pescoço quase que o sufoca de tão apertada que está. É porque se acha o maior leão do Universo. Não, é mais do que isso, considera-se acima de todos os animais de todas as espécies porque mais nenhum é dono de um Castelo. A sua prepotência, a sua arrogância (palavras difíceis que querem dizer “mania que é bom”) tem deixado alguns animais irritados, outros sentem-se diminuídos, inferiorizados, inseguros, pequeninos, e muitos ficam invejosos... (continua)
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