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Big Brother

Mãe de André Filipe conta tudo: «Teve de ser amarrado no hospital»

Sex, 25/09/2020 - 15:00

O Big Brother expulsou André Filipe depois de «comportamentos incorretos» dentro da casa da Ericeira. O jovem acabou por ser internado com um surto psicótico, revela a mãe. Em declarações exclusivas à NOVA GENTE, Hélia Monteiro garante que avisou a produção do reality show de que o filho não estaria bem e descreve toda a sucessão dos acontecimentos.

André Filipe foi expulso da casa do Big Brother na passada quarta-feira. No dia seguinte, foi internado com um surto psicótico no Hospital de São José, em Lisboa, e entretanto transferido para o Hospital do Barreiro. A mãe do produtor audiovisual diz que tinha avisado a produtora de que as ações do filho não eram «normais».

Foi a psicóloga do reality show apresentado por Teresa Guilherme quem ordenou que André Filipe abandonasse o formato. Hélia Monteiro explica tudo o que se seguiu em declarações exclusivas à NOVA GENTE

«Pediram-me calma»

O que aconteceu com o André Filipe?
O André deu entrada em São José, em Lisboa, na madrugada na quarta-feira.

Com um surto psicótico?
Foi o que o psiquiatra disse.

Ele saiu da casa do Big Brother na terça-feira. Como é que percebeu que tinha de ser visto por um médico?
Bem, na terça-feira, eu vi logo que algo não estava bem. Quando ele se atirou para a piscina e começou a mexer nas luzes… aquilo não foi uma atitude normal. Falei com a produção e perguntei se as ações do André faziam parte de alguma missão. Disseram-me que estava tudo bem. Eu só queria ter a certeza de que era missão, de que ele estava a representar ou não, de que estava bem…

E quando é que soube que ele ia sair?
Foi na quarta. De manhã, ligaram-me por causa do número de pessoas que eu ia levar para a claque na gala de domingo [dia 27] e eu aproveitei e insisti na minha preocupação. Alertei-os de que não estava a gostar de o ver, de que aquilo não eram coisas normais do meu filho, e pediram-me calma. Garantiram-me que se houvesse algo de errado eu seria a primeira pessoa a ser informada.

O que acabou por acontecer.
Sim, por volta das 13h30 do mesmo dia ligaram-me a dizer que a psicóloga [do BB] tinha entendido que ele devia sair do programa e queriam que eu o fosse buscar. Mas eu estava a trabalhar e só consegui ir à tarde. Também não sabia o estado em que ele estava. Eu tinha alertado a produção na véspera... Houve ali uma clara falha. Se me tivessem dado ouvidos, tínhamos evitado isto tudo. Eles deviam ter agido logo. Deviam ter agido quando ele estava na piscina a mexer nos fios elétricos. Não há seguranças? Eles sabiam que o que o André estava a fazer não era missão.

«Disseram-me que ele era um ótimo jogador»

A produção desvalorizou?
Não queriam que o André saísse. Ainda na semana passada me disseram que ele era um ótimo jogador. No domingo, na segunda gala, eu manifestei que estava preocupada com a imagem de vilão que ele estava a passar cá para fora. Em jeito de brincadeira, disse que qualquer dia até eu precisava de um guarda-costas e eles descansaram-me. Disseram-me que ele iria ter hipótese de mostrar muito mais dentro da casa.

Na quarta, depois de a psicóloga ter ordenado que ele não podia estar mais no jogo, como é que a produção reagiu?
Obviamente que, como não estavam a conseguir dar conta do que se estava a passar, queriam mesmo que ele saísse. A situação estava fora de controlo. Não sei se é possível nem sei se o André vai querer depois de ver o que se está a passar cá fora, mas gostava que ele tivesse a oportunidade de voltar a entrar na casa. Tenho pena que ele tenha saído desta forma. Ainda perguntei, antes de lá chegar e ver o André, se ele podia sair só no domingo [o ex-concorrente estava nomeado e podia ser expulso]. Depois vi que ele, de facto, não tinha um discurso coerente. O André perdeu o controlo.

E ele percebeu que ia sair?
Ele não queria desistir do programa, mas a psicóloga disse-lhe firmemente que não podia continuar ali. Ele ainda insistiu, dizia «esta casa também é minha». Foi a psicóloga que deu instruções à produção para o tirarem de lá. Se eu o tivesse ido buscar na terça-feira, nada disto teria acontecido. A produção falhou, deviam ter estado mais atentos. A psicóloga não tem culpa.

E a produtora?
Na medida em que deviam ter atuado quando ele começou a ter comportamentos que não eram normais... 

Quando saiu da casa na Ericeira, levou-o para casa?
Sim, mas ele não parava de falar. Ele estava num estado que não consigo explicar. Começou a contar coisas que se tinham passado no Big Brother. Foi à despensa cá de casa tirar tudo e dizia o que faziam na casa com essas coisas. O detergente da roupa, os alimentos… Vi logo que ele não estava bem mas deixei-o falar. Ele também não deixava ser interrompido. Dizia «não me interrompam, deixem-me falar». Depois, foi para a sala e para o quarto reviver memórias do passado dele. 

Em que sentido?
O pai e o tio dele também estavam em casa connosco e ele foi mostrar as dedicatórias dos atores com quem teve contacto. Explicava tudo o que se tinha passado. Parecia que estava a fazer uma apresentação da vida dele, de quem era, a alguém que nunca o tinha conhecido. Voltou ao passado dele e tinha ataques de choro. Por momentos, deu-me a sensação de que pensava que ainda estava na casa do BB a apresentar-se aos colegas.

Estava a delirar?
Olhe, dou-lhe um exemplo: o jantar era carne guisada com cenouras. Ele dizia: «Mamã, sabes que eu não gosto destas cenouras. Mas, em homenagem ao Ruben, eu vou comer. Vou comer porque foi ele que fez». Ele dizia que queria proteger a casa e estava preocupado com os colegas, que eles iam estar sozinhos sem ele. A psicóloga já lhe tinha dito que ele tinha de pensar nele, que os colegas estavam bem. Ele criou uma grande ligação com a psicóloga.

«Tiveram de o amarrar porque ele estava aos gritos»

Foi nessa altura, em que ele estava em delírio, que percebeu que tinha de o levar ao hospital?
Vi que a situação estava incontrolável e chamei o INEM.

E foi diagnosticado com um surto psicótico?
Foi. Foi o que me disseram que ele tinha tido. Teve de ser amarrado no hospital porque estava aos gritos. Dizia «o BB é amigo. Ó mãe, salva-me, tira-me daqui». Foi muito complicado para mim e tiveram de me mandar embora. Quando eu saí do hospital, só o ouvia gritar «o BB é amigo». Ele não conseguiu sair da personagem que criou.

Como está agora o André?
Não sei. Ele já foi transferido para o Hospital do Barreiro. Ontem falei com ele e ainda não estava bem. Eu não consigo ir vê-lo por causa da Covid e eles só dão informações às 5 da tarde. Mas o tio, que trabalha no hospital, esteve com ele ontem [quinta-feira] e diz que ele estava mais calmo. Já está a entrar na realidade. 

Mas ele criou mesmo uma personagem?
Quando ele desmanchou as coisas na casa, quando retirou o espelho e os interruptores, ele pensava que estava dentro de um jogo. O André entrou no Big Brother como se estivesse numa personagem do filme Jumanji e estava à procura de sinais e códigos para salvar os colegas. Ele contou isto ao pai. Falou em códigos, em sinais. Na prática, ele perdeu a noção e não conseguiu sair dessa personagem. Só agora, quando ele falou nesse filme, é que se fez luz para a família.

Estava em delírio?
Sim, sim. Ele esqueceu-se dele próprio.

Isto já tinha acontecido em algum momento?
Lembro-me de uma situação, há uns 4 ou 5 anos, em que ele estava a tirar um curso de teatro e, durante os ensaios para a peça final desse curso, ele chegava a casa dentro da personagem. Foi muito complicado. Até ao dia da apresentação da peça, ele viveu sempre aquela personagem muito intensamente. Mas, respondendo à sua pergunta, não, ele nunca chegou a um ponto destes. Nunca tinha acontecido isto. No Big Brother, ele foi engolido pelo próprio jogo. No dia em que o levei para casa, ele quis ir na carrinha da produção, não quis ir no meu carro. Pensou sempre que estava dentro da casa, mesmo quando já estava no hospital.

«A Teresa expôs o André de uma forma desnecessária»

O que acha que espoletou isto?
Acho que o facto de na gala de domingo passado não lhe terem dado oportunidade para falar e se explicar ajudou. A Teresa [Guilherme] expôs o André de uma forma desnecessária. E ele ali bloqueou. Na gala, ele foi pressionado. Mesmo em relação ao que se tinha passado com o Luís, sinceramente, não vi nada de tão grave que justificasse aquilo que a Teresa fez. Ela nem o deixou defender-se. Além disso, o papel que lhe deram de infiltrado ajudou a alimentar, sem querer, a personagem que ele tinha criado. Até eu achei bom porque era um papel de destaque. Quando ele falou com a Teresa, percebeu que não estava a ser bem visto cá fora. E depois também já estava sem dormir.

Ele tem problemas com o sono ou não dormia pelo stress de estar dentro da casa?
O André tem os sonos trocados. A psicóloga, antes de ele entrar, avisou-o que ele ia ter de mudar comportamentos, que ia ter de dormir de noite. Em casa, ele trabalha durante a noite e descansa de manhã. O tio, mal chegou lá no dia da expulsão, viu que o miúdo não dormia e perguntou se não lhe podiam dar um comprimido.

O que lhe responderam?
Que não tinham. Se calhar não podem dar. Ele nem pode levar as coisas das alergias dele.

Ao longo dos últimos dias, muito se disse sobre este episódio. Conhecendo o André, como acha que ele vai reagir quando se der conta do impacto que teve cá fora?
Eu não sei qual vai ser a reação do André. Ele vai ter de ter acompanhamento. A Endemol diz que lhe vai dar acompanhamento psicológico. O que sei é que, quando ele voltar para casa, vou ter de ficar com ele e não vou poder ir trabalhar.

Num dos Extras, o psicólogo e comentador Quintino Aires disse que o André «devia levar umas palmadas para ver se tem juízo», que precisava de um pai «que lhe dê umas boas palmadas para o acalmar» e sugeriu fecharem-no «três dias no bunker» do programa. A psicóloga e comentadora Susana Dias Ramos afirmou, em entrevista à TV 7 Dias, que o André «não regista nenhuma atitude de uma patologia séria». Como vê estas declarações?
Fiquei surpreendida. Eles nunca o viram na vida e estão a julgar o miúdo pelo que vêem no jogo? Se o Dr. Quintino resolve as coisas à porrada... Ele quer o quê? Alimentar a violência entre jovens? Fico muito revoltada. Eu nunca vi um julgamento sem defesa e foi isso que aconteceu. Digo-lhe já: o meu filho tem 25 anos, mas só permito que ele vá a uma gala se me salvaguardarem que ele não vai ser enxovalhado. Se ele for e o enxovalharem, eu faço um escândalo e olhe que não sou pessoa de fazer escândalos.

Desde que o André saiu, a produção já lhe ligou?
Já, sim. Ligam com frequência. 

«Ele tem muitos dons espirituais que nasceram com ele»

A psicóloga Susana falou em «delírio coletivo» quando questionada, na mesma entrevista à TV 7 Dias, sobre o facto de o André e a Hélia acreditarem que ele tem poderes especiais.
As pessoas ainda não entenderam o que é Reiki. É o tratamento através da energia com as mãos. Ele tem muitos dons espirituais que nasceram com ele e que desenvolveu ao longos dos anos. Ele tem-me ajudado várias vezes ao longo da minha vida. Já me tratou dores físicas, como dores nas costas. De forma espiritual, ele sente tudo. Consegue ver o que estamos a sentir. Algumas pessoas não entendem, mas isso são outros 500 e não me quero alongar.

Sempre disse que o André foi um menino especial e também que ele tinha presenciado coisas que se passaram consigo e com o seu ex-marido que mexeram com ele.
Sim, ele teve de crescer rapidamente porque houve circunstâncias da minha vida que o afetaram. O André não teve um passado fácil, mas se foi isso que o levou a ter as atitudes que teve na casa? Não, não foi.

Quando fala num passado que não foi fácil, refere-se a quê?
Não vou falar do quê, não vou expor a minha vida.

E o pai do André?
Está muito revoltado. Diz que não é justo o que o filho está a passar.

Independentemente do que se passou entre si e o seu ex-marido, ele tem estado sempre ao lado do filho?
Ele é um bom pai no sentido de defender o filho. Eu é que estive sempre presente em tudo. Mas não quero falar mais disso.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: DR

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