Nacional
Artigo de Opinião

Big (ou quase) Brother (e quase) 20 anos depois

Dom, 26/04/2020 - 17:01

Artigo de opinião: «O Big Brother regressa hoje 20 anos depois. Quase 20, na verdade. Em 2000, em setembro, ainda havia Torres Gémeas. A TVI, como hoje, apostava num formato polémico (oh, se era...) para atacar a liderança»

Artigo de opinião de Viperina

O Big Brother regressa hoje 20 anos depois. Quase 20, na verdade. Em 2000, em setembro, ainda havia Torres Gémeas. A TVI, como hoje, apostava num formato polémico (oh, se era...) para atacar a liderança.

Primeira diferença: em 2000, a TVI nunca tinha experimentado o sabor da liderança. A partir desse BB (e dos que se seguiram) foi sempre líder até 2019. Foram, na verdade, 20 anos de liderança. Quase 20, na verdade.

Ou seja, o BB pôs - ou ajudou a pôr - a TVI na liderança. E a TVI acha que o mesmo BB servirá para o mesmo efeito. 20 anos depois. Ou quase 20, na verdade.

Ou muito me engano ou eles estão enganados. Se quisermos ser puristas do conceito, só houve um BB. Foi o primeiro. Os outros foram como uma espécie de 'rasto prolongado' da primeira versão. Houve sempre o 'novo Zé Maria'. A nova 'Susana'. Ou o 'novo Marco'. Tudo falso. BB só houve mesmo o primeiro.

Só na primeira edição foi possível ver e viver o programa na sua essência. Por nós, cá fora. E por eles, lá dentro. Concorrentes desligados do Mundo, que não faziam a mínima ideia do que se passava 'aí fora' (expressão que era repetida todos os dias, em todas as edições, a todas as horas) e muito menos imaginavam o impacto que o conteúdo estava a causar.

Quando saíram os 12, o Mundo tinha andado. Em quatro meses acontece muita coisa. E aconteceu mesmo. A questão é que os 12 seguintes já sabiam tudo: as capas das revistas, as audiências, como 'jogar' lá dentro, como estabelecer alianças, como 'trabalhar' para os votos e por aí fora. O que era novo, deixou de ser. E, mesmo que o impacto das audiências não se tenha sentido (numa primeira fase), a verdade é que se perdeu a pureza, a verdade e o carácter genuíno do conteúdo. Era uma questão de tempo até morrer.

Dir-se-á que, nalguns países (poucos), continua a resistir. Talvez. Mas talvez também nunca 'morrido' em definitivo. Foi vivendo. Em Portugal, estou seguro, não será assim. Porque, aqui, o programa morreu de morte natural. E quando assim é, não há nada a fazer.

«O efeito demolidor do BB em 2000 e 2001 é uma memória difícil de apagar»

Sou daqueles que acreditam - como ainda ontem ouvi alguém dizer - que, em Portugal, a TV se divide num antes e num depois do BB. Tenho dificuldade em perceber como não se leva a sério a expressão. Estamos no ´'depois' do BB. E se este é o 'depois', então é porque já passou, não?

O efeito demolidor do BB em 2000 e 2001 é uma memória difícil de apagar. Havia diretores de canais que, por despeito, diziam não saber quem era o Zé Maria. Havia cantores, apresentadores, figuras e figurinhas que odiavam o BB e os seus concorrentes pela simples razão de que o 'bicho' mexeu com tudo o que estava estabelecido.

Ex-concorrentes do BB apareceram a escrever colunas de opinião em revistas. A apresentar programas de televisão. A dar autógrafos. A açambarcar as famosas 'presenças' em discotecas, restaurantes, festas e outros espaços onde, antes, aparecia quem inevitavelmente teve de ficar para trás. E alguns dos que ficaram para trás estão agora a ver se conseguem aparecer na 'fotografia'. Os factos são muito teimosos, não são?

Nestas coisas, ficam sempre marcas. Há quem já não se lembre do que disse há 20 anos (ou quase) sobre o BB. Alguns estão hoje a dizer o seu contrário porque, de facto, o Mundo move-se. E, às vezes, mexe-se mesmo muito. E quem dizia que o BB era lixo espera hoje que o mesmo BB seja ouro. E quem dizia 'jamais' diz agora 'sempre'. A vida é mesmo assim.

Vem aí o BB. Vejo uma equipa vasta de rapazolas que não fazem a mínima do que se trata. Dizem umas banalidades e têm uma vaga ideia do que foi o fenómeno. «Ah, e tal, deu a liderança à TVI. Ah, e tal, tinha o Zé Maria.» Alguns deviam andar na escola, de bibe, quando o barranquenho falava com as plantas, lá na Venda do Pinheiro. Não sabem o que foi o BB. Muito menos sabem que só houve mesmo um BB - entre setembro e dezembro de 2000.

«Foi a chave do sucesso»

Acham, simplesmente, que esse lixo de outrora lhes pode dar agora uns meses uns meses de estrelato. Vão à pendura do formato. Antes, há 20 anos (ou quase, vá), eram os concorrentes que tinham o sonho de aparecer. Que procuravam a fama. Que procuravam 'safar' a vida. Hoje, é exatamente isso que faz aquele batalhão de apresentadores.

Há, em tudo isto, um caso notável de coerência. José Eduardo Moniz. Foi o criador (para Portugal) do programa. Foi o ideólogo da estratégia. Foi a chave do sucesso. O Mundo mudou, também, para José Eduardo Moniz. Porque, lá está, passaram 20 anos. Ou quase. Mas se há alguém hoje na TVI que pode continuar genuinamente apaixonado pelo programa é ele, claro. É o único que pode dizer hoje o mesmo que dizia há 20 anos. Ou quase. Mesmo sabendo - e ele sabe - que o contexto é irrepetível. 

A TV que se fazia há 20 anos não existe mais. Pouco sobra desse tempo, aliás. E, para infelicidade da TVI, já nem a (mesma) Teresa Guilherme resta. Duas décadas é mesmo muito tempo. Ninguém pode esperar que o BB faça hoje os 60 pontos de share que fez nos primórdios do século. Nem 50. Nem 40. Nem 30. Se fizer 20 - ou quase - já será um milagre.

O BB dos novos tempos não irá morrer em breve. Porque já está morto há muito tempo. E, como sabemos, ninguém morre duas vezes.

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