Nacional
António Pedro Cerdeira

"Um vazio". Ator conta como têm sido gravar novela sem Maria João Abreu (Exclusivo)

Sáb, 29/05/2021 - 20:40

António Pedro Cerdeira, numa entrevista à NOVA GENTE, fala do legado que a atriz deixou e recorda ainda a morte de Nicolau Breyner: "Disse a algumas pessoas que deviam ter vergonha".

António Pedro Cerdeira deu uma entrevista à revista NOVA GENTE, que está em banca, e contou como tem sido gravar a novela da SIC, "A Serra", sem Maria João Abreu. O ator elogiou o bom ambiente entre colegas e enalteceu a posição que a SIC tomou assim que se soube da morte da atriz, comparando-a com o que aconteceu aquando da morte de Nicolau Breyner, em 2016: "Disse a algumas pessoas que deviam ter vergonha".

Falou do bom ambiente que se vive na novela, mas esse ambiente ficou agora muito abalado com a morte da Maria João Abreu.
Sim. E antes da João, ainda tínhamos tido o problema da Sofia [Alves]. Vimos a Sofia a passar por vários momentos antes e depois, quando veio, estava muito debilitada. Foi complicado… E agora, com a Maria João, foi terrível. Terrível, mesmo.

Era um desfecho já esperado...
Era. Havia algumas pessoas com esperança, otimistas, e havia a outra metade. Eu sou, normalmente, uma pessoa otimista, mas não estava… Procurei informar-me e, além do processo de vida ou de morte, era também complicado o estado em que ela iria ficar, caso recuperasse. Ia ser muito violento.

As gravações da novela foram canceladas nesses dias.
Sim, sim. Na quinta [13 de maio, dia da morte da atriz] e na sexta foi tudo cancelado. Uma atitude à qual eu tiro o chapéu, porque não me esqueço, e ainda guardo essa mágoa, de que, quando o Nicolau Breyner morreu, as gravações não pararam. Isso não faz sentido nenhum. Na altura, disse a algumas pessoas que deviam ter vergonha, porque, se existe esta indústria, uma das pessoas a quem o devemos é a ele. Aqui, houve imediatamente um cancelamento por parte da S.P. Eu estava nos exteriores, na Arrábida, e era um daqueles dias complicados... Estava muita gente, havia muito material, mas imediatamente as gravações foram paradas. Nem chegaram a começar, aliás.

Como foi o regresso ao trabalho?
Uma das máximas da João era “the show must go on” [o espetáculo tem de continuar], que é um cliché, mas tem de ser. Eu também sou assim. Eu também já gravei em fases mais complicadas. Acaba por ser um exercício de escape e acaba também por ser uma homenagem à João. O espírito é esse. Vamos fazer isto por ela e vamos agarrar ainda com mais unhas este projeto. Vamos tentar homenageá-la, fazendo desta novela um sucesso ainda maior. Ela seria a primeira a querer isso.

Porém, devem ter sido dias muito duros para todos.
Sim, desde o dia em que lhe aconteceu aquilo nas gravações. Agora é ainda mais. É muito duro, sente-se um vazio…

Já existe alguma solução para a história da personagem dela?
Não sei. Devem arranjar uma viagem ou algo do género. Ia haver uma reviravolta na história dela… Ia aparecer o ex-marido, um gay não assumido. É a personagem do João Reis, que entrou há meia dúzia de dias. Ele não sai, mas vão ter de arranjar uma solução. Mas claro que parte do trabalho que ele já tinha gravado vai ficar na gaveta. E penso que também vai entrar outra atriz, para fazer de irmã dela, com as mesmas características, até porque a personagem da João era um bocadinho o pivô daquele grupo. Mas não vai ser fácil. A João tinha uma personagem muito forte, que mexia com vários núcleos.

Grande parte do elenco marcou presença no velório da Maria João.
É verdade. Eu não consegui entrar, fiquei cá fora. Aquilo teve um mar de gente… e já reparou que, tal como nós, o público também se refere a ela como “a nossa João”. Ela tocava na vida das pessoas. Ninguém pode dizer “hoje a João veio maldisposta” ou “a João explodiu e respondeu mal a alguém”. Isso nunca aconteceu. Ela tinha um sorriso e sempre que chegava dava um abraço forte, por isso, todos nós quisemos prestar-lhe homenagem. Bateu-nos muito forte. É uma pessoa que faz falta.

Na sua opinião, que legado é que a Maria João deixa?
Ela estava muito cansada e muito magrinha e acho que o tributo que ela nos pode deixar é esta coisa de não desvalorizar os problemas de saúde. Ela andava com dores de cabeça há duas semanas e é preciso estar atento a isso. Ela deixou esse tributo, essa chamada de atenção.

Leia a entrevista completa na revista NOVA GENTE que está em banca.

Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Tito Calado 

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