Nacional
Ágata

Obrigada a chamar a polícia por causa de um fã

Seg, 04/10/2021 - 09:20

Ágata recorda os primeiros tempos de carreira numa entrevista exclusiva à NOVA GENTE. A cantora explica ainda a razão porque escolheu o nome artístico em vez do seu verdadeiro nome, Maria Fernanda.

Ágata deu uma entrevista exclusiva à NOVA GENTE e recordou vários episódios do passado. Com uma carreira de 45 anos, a cantora popular falou sobre a infância, sobre os primeiros anos em cima dos palcos e ainda revelou um problema que teve com um fã e que a levou a chamar a polícia.

Começou a cantar aos 13 anos. Sempre quis ser cantora? 
Com 13 anos, já cantava, mas o meu primeiro disco só saiu aos 14 anos. Os meus tempos livres eram passados a cantar. Em criança, não pensava fazer carreira disto, não sabia ainda processar essa ideia, mas a vontade era cantar, cantar e cantar. 

Iniciou a sua carreia com o nome Maria Fernanda. Como surgiu o seu nome artístico? 
A minha mãe tinha para mim um nome mais artístico, que era Marisol. Escolhi o nome Ágata, porque nunca gostei do meu nome e queria mudar quando começasse a trabalhar para uma carreira a solo. O nome Ágata foi um segredo dado pelos deuses, pelo meu anjo da guarda. 

Morou em Benfica e lá cantava à janela. Era a vontade de se expressar? 
Comecei a cantar à janela em Benfica. Vivia na Estrada de Benfica, num rés-do-chão. Em vez de estar a brincar dentro de casa, punha-me à janela e o meu passatempo era cantar. Depois, fui para a Graça, vivia num segundo andar. Lá também passava as tardes a cantar à janela. 

E as pessoas paravam para ouvi-la? 
No rés-do-chão, sim. No segundo andar, era o vizinho do primeiro que batia palmas. Ele dizia-me ‘que bem que cantas, miúda, pareces um rouxinol’. Depois, quando me apanhava nas escadas, puxava-me o nariz e dizia que eu tinha nariz de toucinho. Nunca me esqueci, porque ficava danada quando ele me dizia isso. 

Como recorda o início de carreira?

Fiz muitas festas de beneficência, cantava em várias salas, estudei solfejo durante dois anos, frequentei o centro de preparação de artistas da Emissora Nacional. Foi uma escola. Foi uma época em que eu ia cantar com artistas internacionais, com uma orquestra de 42 elementos. Sentia-me minúscula ao lado de uma orquestra tão grande. Eu era quase o ‘biju’ do maestro Mesquita, que me dava todas as dicas para saber como é que havia de entrar em palco. Aprendi tudo. Também frequentei uma escola de canto na Avenida da Liberdade e era assim que passava as minhas tardes. 

Lembra-se a primeira vez que deu um concerto? 
Recordo-me do primeiro concerto que foi pago. Recebi 300 escudos, na altura, para cantar numa festa. Tenho a memória da responsabilidade. Eu era aquela que abria os concertos, fazia a animação antes do grande espetáculo. Queria sempre fazer um brilharete antes do artista principal chegar. Dava sempre o meu melhor. 

Quem mais a apoiou no arranque da sua carreia?  
A minha avó, que adorava ouvir-me, e a minha mãe, porque era o sonho dela que nunca realizou. Os fins de semanas eram sempre a cantar. Lembro-me de a minha avó me dar vinte tostões depois de cantar. Eu pegava no dinheiro e ia comprar guloseimas.   

Sagrar-se cantor em Portugal é difícil?  
Quando comecei a cantar, não tinha aquela ideia de fazer disto uma profissão. Cantava, mas sem pensar em ganhar dinheiro. Mais tarde, comecei realmente a ser paga e comecei a perceber que, se as pessoas me pagavam, é porque gostavam mesmo de me ouvir. Então, aperfeiçoei muito mais os meus serviços e comecei a crescer. É difícil porque não podemos desaparecer, temos sempre de alimentar a nossa imagem, temos sempre de estar a fazer coisas para não deixar o nosso nome morrer. É como uma planta: se não a regarmos, murcha e morre. A nossa vida é igual. Temos que a agarrar com carinho, com amor, temos que tratar bem das coisas para que os resultados sejam positivos. É nessa perspetiva que tenho agarrado sempre a minha carreira. 

Passou pela girlband Cocktail, pelas Doce, e depois voltou a cantar a solo. Foi aí que a sua carreira escalou…  
Cantar a solo foi sempre a minha intenção, mas os primeiros discos não tiveram sucesso. Depois veio o ‘Perfume de Mulher’ quando eu tinha 34 anos. Ou seja, estive 20 anos para conseguir um sucesso. É muito tempo. 

Porque é que isso não aconteceu? 
Porque não tinha que acontecer. Porque passei oito anos nas Cocktail e dois nas Doce e tinha que aprender, experienciar algumas coisas para poder adquirir outras. Não era a altura certa. A vida tem destas coisas. Quando menos esperamos, sai-nos o Euromilhões. 

O que é mais importante na música para si? 
É o meu contacto com o público, juro por Deus. Eu sentir que as pessoas vêm para estar comigo, isso é que me enche de glória. Depois, vem realmente o nosso retorno, é o nosso cachê, fruto do nosso trabalho. Só que os nossos cachês são às vezes tão simbólicos... porque nós não trabalhamos sozinhos. Pedimos um cachê para pagar a uma grande equipa, desde técnicos, coralistas, bailarinos, entre outros. Temos muitas despesas, como as horas que gastamos em estúdio, os videoclipes, as roupas, maquilhagem, cabelos, etc. A nossa carreira exige um bocado da nossa imagem.  

Recorda-se de alguma história caricata com algum algum fã? 
Recebia imensas cartas. Tinha pessoas que se ofereciam para estarem a meu lado, para me defenderem e para estarem perto de mim. Uma vez, houve uma pessoa que descobriu a minha morada e veio até à minha casa. Disse-me que vinha para viver comigo. Apareceu com uma mala às costas e vinha disposto a proteger-me daquela pessoa do videoclipe que me fazia mal. Tive que chamar a GNR. No início pensei que era uma brincadeira, depois é que vi aquilo um bocado complicado. 

Como geriu o nascimento e crescimento dos seus filhos (Marco e Francisco) com os concertos? 
Há sempre tempo para tudo. Os espetáculos eram sempre mais ao fim de semana e, quando começava a apertar, arranjava sempre soluções. Nunca deixei de dar atenção aos meus filhos por causa do meu trabalho. Sou uma mulher muito orientada. Sempre me desenrasquei, os meus filhos nunca foram uma dificuldade na vida. 

Como é a Ágata mãe e a Ágata avó?
As duas são iguais. Não há muitas diferenças. São ambas muito preocupadas, sempre disponíveis para amar. Sou a mesma pessoa. 

Depois de 45 anos de carreira, a sensação de entrar num estúdio e gravar um disco ainda é a mesma? 
Há, talvez, mais confiança, mais segurança. Neste momento, há mais partilha num estúdio. Já estou mais certa daquilo que quero fazer e há mais diálogo entre a equipa. 

Qual foi a música que mais lhe deu prazer gravar e porquê?  
Ui, muitas. As românticas são as que me dão mais gozo. Essas são as que mais gosto de cantar. São os temas que mais mexem comigo em estúdio, tem mesmo a ver com aquilo que gosto de fazer. 

Considera-se uma romântica? 
Sim, sem dúvida. 

Quanto celebrou 40 anos, disse que ia abandonar os palcos, mas não chegou a fazê-lo. O que aconteceu? 
Eu vi a música muito banalizada, como continua a ser nos dias de hoje. Achei que os concertos não eram pagos de forma a que conseguisse fazer um bom espetáculo. Comecei a não aceitar alguns convites, porque não conseguia fazer um ‘bolo jeitoso sem ovos’, isto é, ter uma boa produção. Aí, perdi a vontade. Eu não conseguia dar ao público um espetáculo digno com aquilo que me ofereciam. Ir para a estrada com mau som, má iluminação e com um palco que não se consegue trabalhar... Para fazer um mau trabalho, é preferível ficar em casa. Neste momento, também estou a deixar de fazer playbacks e só faço [concertos] com banda porque sinto-me extremamente bem com a minha banda. 

No dia 5 de março de 2022, vai fazer um grande concerto…  
O concerto “As minhas canções” no Coliseu de Lisboa vai ser inédito. Na minha carreira, é a primeira vez que vou dar um concerto desta dimensão. Já tenho pessoas que me mandam fotografias com os bilhetes na mão. Estou feliz, porque consigo perceber quem é que gosta de mim de verdade. Estou a valorizar muito as pessoas que não querem perder de forma alguma o concerto. Estamos a trabalhar para isso! 

Se pudesse, o que é que a Ágata de hoje diria à Ágata de há 45 anos?
Não sei, acho que todos os tempos são temos de aprendizagem. Todos os erros que cometi ou que ainda possa vir a cometer são alertas e ensinamentos para que eu possa crescer. Nós estamos todos cá para evoluir. É importante percebemos aquilo que nos faz crescer, a forma como podemos contactar com as pessoas, fazer ou não fazer, qual é o caminho que temos que seguir, etc.

Já começou a escrever a sua autobiografia? 
Ainda não consegui, talvez para o final do ano que vem possa vir a ser um desafio. Entretanto, veio esta pandemia e abri a loja Essência da Vida para poder ajudar as pessoas com terapias alternativas e tenho me dedicado um bocadinho a esse lado.

(Entrevista publicada na edição nº2349 da revista NOVA GENTE)

Texto: Carolina Sousa; Fotos: Impala e Reprodução redes sociais

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