A psicóloga clínica Sandra Santos acredita que há alterações mentais e piscológicas nos novos pais. Várias. Destaca uma. “A reactivação do pai interno.” E passa a esclarecer esse termo. “É a função paternal que, como filho, se absorveu do próprio pai. Não apenas o pai real que se teve: o conjunto de aprendizagens que o agora novo progenitor foi fazendo ao longo da vida. O seu pai foi um modelo, acerca de como ser progenitor. Uma influência boa ou má. Mas depois o filho vai, também, armazenando informação sobre este assunto.”
Décadas antes de nascerem os seus filhos, vai observando como se comportam vários pais. E vai pensando como gostaria que o seu fosse, para além daquilo que é. Informa-se, lê, ouve, vê... Claro que a quantidade e qualidade da informação que interioriza depende da sua predisposição e vontade. Quando se torna pai, todo esse arquivo mental, consciente e inconsciente, se cruza e dá origem ao novo progenitor que essa pessoa vai ser. O filho de um mau pai pode ser bom a educar os seus descendentes, e vice-versa. O processo não decorre de forma linear. “Esse homem pode ter tido outras boas referências masculinas, ao longo da vida – e, também, uma boa mãe.”
A reactivação da função paterna é quando se liga o interruptor que põe a funcionar “a súmula entre o pai verdadeiro, o progenitor imaginado, e as informações e emoções que se guardaram na mente”. Um depósito psicológico que ficou latente durante anos, à espera de ser posto em prática. Nos dias que correm, afirma a especialista, “existem muitos bons pais e imensos maus progenitores. Alguns tiveram maus pais (ausentes, alcoólicos, maltratantes da mulher)... Mas depois dão muito bons pais. Outros tiveram patriarcas mais neutros, sem estas características negativas, e dão muito maus pais”. Tudo depende da forma como trabalham e digerem intelectualmente os referidos dados, e a função paterna, dentro de si.
“Um mau pai pode funcionar como um modelo de contra-referência. O seu filho pode pensar: ‘vou ser o contrário do que ele foi’. Segundo o autor Donald Woods Winnicott, não há maus nem bons pais. O ideal é o suficientemente bom. Aquele que exerce as suas funções, trata bem os elementos da família e tem uma vida própria, para lá do lar”, recorda.
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