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Vinho Português

Apreciado pelo mundo

Seg, 24/11/2014 - 10:48

Somos o país com mais diversidade de castas. O clima
e tradição vínica colocam as nossas garrafas nas mais
medalhadas além-fronteiras. Com a ajuda de um enólogo
conceituado e de um dos melhores provadores de vinho
do mundo, saiba o que estes néctares têm de melhor.

"Portugal é o país com o maior número de castas diferentes no planeta e isso é extraordinário. Países como a França estão à frente, em anos-luz, em termos de marketing em relação a nós, com os vinhos de Bordeaux e os de Borgonha. Nós neste nosso cantinho temos o mundialmente famoso vinho do Porto, mas os restantes vinhos estão um pouco esquecidos. Há já um bom trabalho nesse sentido por parte da ViniPortugal, sem dúvida, mas ainda estamos um pouco atrasados e os produtores estrangeiros acabam por ficar estupefactos quando descobrem os vinhos fantásticos que temos em Portugal”, sublinha o enólogo António Figueiredo, assim que começa a fazer a visita guiada ao Casal de Santa Maria, em Colares, com a equipa da NOVA GENTE.

Orgulhoso, e sabendo que as histórias causam apego, justifica alguns aromas especiais dos vinhos desta marca, muitos deles já medalhados em concursos mundiais. Entre as castas demarcadas chamam a atenção as rosas, de várias espécies e cores, e ao fundo os olhos batem no mar. Experiência que faz a marca “As histórias vendem, a explicação da origem apaixona. Por exemplo, esta quinta é de um barão com 102 anos que, aos 96, mandou plantar a vinha, com rosas lindíssimas, em homenagem à mulher, a separar as castas. Associar a história do barão ao vinho e à quinta causa logo impacto. Estes aromas acabam por entrar nos vinhos, são perfumados, é uma característica nos vinhos aqui do Casal de Santa Maria”, diz.

Em Lisboa, num passado recente, quase que só se consumiam vinhos de Colares e os brancos de Bucelas; atualmente são os alentejanos e os do Douro. O enólogo explica: “O consumidor mudou, aumentou a venda em supermercados e a globalização interna contribui para isso. Hoje em dia não se precisa de viajar para o Alentejo para comprar um vinho Pias. O consumidor passou a poder comprar variedade. Por exemplo, Colares é uma região que renasceu há cerca de quatro ou cinco anos e traz muito turismo, este ano foi extraordinário. Há cada vez mais turismo relacionado com vinho. As pessoas querem ter as várias experiências, desde as provas ao vindimar, o prazer de beber um copo de vinho ao fim da tarde com amigos.”

O consumo deste néctar em Portugal aumentou e beber um copo de vinho está mesmo na moda. A tendência dos wine bars, vinho a copo e jantares com provas “Portugal sempre foi um país produtor. As pessoas ganharam gosto em ter bons vinhos em casa, ter uma garrafeira de consumo de dia-a-dia e ter vinhos guardados para ocasiões especiais. Se pensarmos, há 40 ou 50 anos, guardavam da sua colheita de vindima sempre umas garrafas para beber mais tarde. Há uma premissa cultural aqui. Acho que a moda do vinho a copo foi das melhores coisas que aconteceu no setor em Portugal nos últimos anos, lá fora já era comum”, defende o escanção Sérgio Antunes.

E é extraordinária a tendência por várias razões: aumenta o consumo, o cliente tem a oportuni-dade de provar vários vinhos ao invés de comprar uma garrafa apenas e ter de a consumir; o vinho a copo permite escolha de variedades, regiões e, se não gostar especialmente de um, o investimento foi pequeno. Na gastronomia também teve impacto, já que se utiliza em menus de degustação um vinho para cada prato e, nesse caso, saem os dois setores a ganhar. Quando se faz um casamento perfeito entre um prato e um néctar ganham os dois e as pessoas vão lembrar-se da experiência. Mais tarde, numa garrafeira ou num supermercado sabem que aquele vinho é bom, lembram-se que já o beberam. A introdução da venda de vinho a copo foi uma aposta ganha!“, frisa.

O cliente quer novidades, quer ter experiência e volta para provar vinhos diferentes. É bom para o produtor, que vê o seu vinho representado em mais sítios, e para o restaurante, por ser o primeiro a ter muitas qualidades de vinho à escolha e as pessoas voltarem para repetir. Muitos restaurantes fazem noites de provas vínicas e isso é ótimo”, adianta ainda.

Se convidarem o Casal de Santa Maria a fazer um jantar, com certeza que é aceite, indo o enólogo apresentar e explicar o produto, o que é essencial: “Os vinhos têm uma história e isso aguça o prazer e a curiosidade. Toda a gente adora ter a explicação detalhada donéctar que vai consumir e vai associar o nome no futuro, o que é absolutamente mais rico do que ir a um supermercado comprar uma garrafa, levar para casa e consumir sem saber justificar as suas características”, concorda Sérgio.

Curiosidades culturais da história vínica de Portugal “Temos a região demarcada, com leis próprias, mais antiga do mundo (Porto/ Douro), com histórias entrosadas, como o facto de Carcavelos ter sido, durante muito tempo, a única zona autorizada a dar uva para o vinho do Porto, por exemplo, é uma coisa que quase ninguém sabe. Vai cabendo aos enólogos e escanções irem contando este género de detalhes. É cultura e ao mesmo tempo agrada ao cliente”, conta António Figueiredo.

Só existem três regiões no Mundo demarcadas para aguardente: Cognac, Armagnac e Lourinhã. Só isso mostra o nosso património, que é impressionante! São coisas giras para o consumidor saber”, acrescenta. “As nossas naus levavam os vinhos além-fronteiras, os moscatéis, os Carcavelos e os antigos Lavradio corriam o Mundo”, replica Sérgio.

A nossa produção de vinho renasceu de uma praga – a filoxera – uma doença que ataca a vinha, uma espécie de mosquito que veio dos EUA. Chegou a Portugal e dizimou as vinhas todas, por volta de 1906. Antónia Ferreira, uma visionária, ao aperceber-se da possibilidade de vir uma praga, comprou porta-enxertos americanos (que agora estão em todas as vinhas, são imprescindíveis) e salvou-a. Foi a única produtora de vinho do Porto”, revela-nos ainda o enólogo António Figueiredo.

Afinal, o que torna os nossos vinhos assim tão especiais? “São ricos, encorpados e muito estruturados. Num país tão pequeno, em quatro ou cinco quilómetros de distância mudam as características. O clima, o nosso terroir (conjunto de fatores como a mão humana e o estilo individual de cada enólogo, o terreno, o meio que o envolve), entre outros, são muito característicos. Por exemplo, uma vinha virada a norte é diferente de uma a oeste, mesmo que estejam lado a lado. O tipo e intensidade de intervenção do vento muda-o, até a inclinação do terreno altera a sua maturação”, defende o escanção Sérgio Antunes.

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