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Portugal

As profissões com futuro

Qua, 22/04/2015 - 14:08

Deixe de insistir em carreiras que não têm retorno monetário e de satisfação
pessoal e aposte em profissões cujo mercado está em ebulição. Informática,
tecnologias e área comercial estão no topo. São os sinais do tempo. Ajuste-se.

Mia Silva tem 43 anos e é licenciada em Educação de Infância. Sempre sonhou em trabalhar com crianças e, por isso, na altura de escolher a profissão, não hesitou. Sem que nada o fizesse prever, e num reflexo da crise económica, o jardim-de-infância onde trabalhava fechou. Aos 36 anos, o desemprego bateu-lhe à porta na pior das alturas: em plena crise económica e financeira no País. Insistiu durante algum tempo na procura de um lugar numa creche ou ATL; no entanto, a necessidade de emprego falou mais alto e Maria “partiu para outra”.

Sem baixar os braços, a educadora de infância abriu os horiar zontes e resolveu experimentar outras áreas: “Estava cansada de enviar currículos e de não ter resposta. A experiência de 12 anos à frente de miúdos pouca diferença ou nenhuma fazia e chegaram a propor-me lugares de auxiliar de educação”.

Nunca desistiu e, por isso, decidiu dar uma reviravolta na vida e na carreira: “Aceitei um lugar como animadora cultural numa Unidade de Saúde de Cuidados Continuados. No início, assumo que estava naturalmente apreensiva, mas rapidamente me adaptei. Em pouco tempo dei por mim a fazer com adultos – a grande maioria idosos –, o mesmo tipo de atividades que durante tanto tempo fiz com crianças. Adaptando os trabalhos às necessidades de cada um, obviamente”. O que começou por ser um emprego aceite por necessidades financeiras acabou por transformar-se numa carreira e, atualmente, Maria Silva confessa: “Sempre soube que o meu talento era estar com os mais novos, mas as circunstâncias da vida levaram- me a perceber que é nos mais velhos que tenho o maior retorno e me sinto mais realizada. Se hoje me propusessem voltar, seria um grande dilema. Continuo a adorar os pequeninos, mas acho que onde estou é que é o meu lugar”.

A história de Maria Silva foi uma casualidade, mas a verdade é que a adaptação que fez na vida será algo comum num futuro muito próximo. Sinais dos tempos, dirão alguns. A população em Portugal está cada vez mais envelhecida, o que faz com que as atividades ligadas aos mais velhos estejam no topo das prioridades para a sociedade – mais geriatras e menos pediatras, mais residências de 3.ª idade e menos creches e jardins-escola.

Maria da Glória, da Amrop (empresa cujo lema é ajudar os clientes a desenvolver os seus negócios), considera três setores distintos: “O do retalho, cujo consumo interno deverá aumentar em 2015, prevendo-se uma continuação da retoma económica, e, especificamente, as profissões ligadas ao retalho alimentar. As empresas exportadoras, especificamente os diretores de comércio internacional, assumem, cada vez mais, papéis de grande relevo nos mercados (azeites, vinhos, etc). E as profissões na área tecnológica, uma vez que a tremenda pressão de evolução na tecnologia “obriga” a que as melhores empresas cresçam”.

É necessário que as pessoas acompanhem a evolução natural da sociedade onde estão inseridas. Portugal encontra-se há quatro anos numa grave crise económica, mergulhando num enorme buraco de desemprego. O País mudou e com ele os hábitos e as necessidades. Nos anos que antecederam a crise, por exemplo, Portugal vivia uma época de expansão com uma proliferação de obras públicas e privadas.

Nas áreas de arquitetura e engenharia civil viveram-se anos dourados, que deram lugar a um período de escuridão. No entanto, se existem profissões que atualmente vivem dias difíceis, há outras que emergem e para as quais o ano que agora começou promete ser bom.

Em 2015 prevemos que as funções comerciais (de um modo transversal a todos os sectores) e posições técnicas ligadas aos sectores tecnológico e de engenharia sejam as mais procuradas”, refere Marta Santos, Section Manager da Hays Response, uma das principais empresas de recrutamento a atuar no território nacional.

Há atividades que são imprescindíveis para a sociedade, seja no passado, atualmente ou no futuro. Por muito que haja tendência para mudar. Advogados – As leis, os códigos e os processos judiciais poderão vir a fazer parte de um gigante ficheiro informático, mas terá sempre de existir alguém com capacidade de persuasão e interação com as pessoas, para convencer juízes e jurados. Político – É inevitável. É a área que gere a sociedade. Nenhuma nação vive sem eles.

Será sempre preciso existir governantes. Jornalistas e escritores – O jornalismo, tal como hoje se conhece, poderá sofrer alterações, mas haverá sempre a necessidade de ter alguém para redigir notícias para diferentes suportes informativos. Artes performativas – A representação e outras atividades continuarão a transformar-se e a evoluir a par com a tecnologia. Não desaparecem pois o entretenimento faz cada vez mais parte da sociedade. lacuna no preenchimento de vagas de emprego.

Acrescentando a essa questão outros fatores, atribuem o adjetivo “promissor” a determinadas profissões: “Uma atividade é conotada como promissora quando avaliada de uma forma global, ou seja, vislumbra resultados financeiros positivos (lucro), processo de expansão nacional e internacional, etc. Consequentemente, irá dinamizar positivamente a economia do país, permitindo processos de investimento, conduzindo a um aumento da sustentabilidade e da estrutura orgânica e, deste modo, potenciando condições de trabalho interessantes aos colaboradores”, explica Marta Santos.

Uma opinião partilhada por Maria da Glória: “As profissões mais promissoras serão sempre as que têm maior sustentabilidade, não apenas as que são procuradas no imediato, mas as que oferecem continuidade e progressão à carreira”. Tendo em conta a crise e a alta taxa de desemprego em Portugal, deverão as pessoas apostar nestas áreas ou apenas quadros altamente qualificados podem “sonhar” com os lugares? Marta Santos não tem dúvidas: “Todas as áreas necessitam de uma estrutura de ‘topo’ com cargos diretivos, mas também de funções operacionais, sem os quais o negócio não seria possível. Qualquer indivíduo deve ser sensato na procura de emprego, respeitando as suas motivações e movendo-se de acordo com as suas aspirações”.

Ainda no que diz respeito a uma candidatura, outra das questões que assombra muitos dos indivíduos que se candidatam a uma nova vaga tem a ver com a situação em que se encontram. Existe a ideia de que alguém que concorre a um lugar numa situação de desemprego se encontra, desde logo, em desvantagem em relação a alguém que o faz estando empregado. Do ponto de vista de quem recruta, será verdade? “Não será por si só um fator de seleção ou exclusão de um candidato. Quando se está a avaliar um profissional, tem-se em conta as competências técnicas (hard skills), comportamentais (soft skills), motivações e disponibilidade”, avança a Section Manager da Hays.

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