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Miguel Duvall

Encontrámos o encantador de cães português: "Eles seguem-me"

Ter, 01/12/2020 - 09:40

Impressiona quando passa pelas ruas do bairro de Alvalade, em Lisboa. É ele o líder de uma matilha com mais de 60 cães. Apenas dois são dele. Os restantes estão a ser educados.

Tem 39 anos. Até aos 30, Miguel Duvall andou “meio perdido, à procura de algo que gostasse de fazer para sempre”. Tirou o curso de Gestão para não contrariar os pais, foi cabeleireiro por conta de uma ex-namorada, vendeu casas por necessidade... Experimentou “uma panóplia de coisas”, diz à NOVA GENTE. O bater das três décadas de vida trouxe-lhe a descoberta de uma vocação: ser encantador de cães. 

A expressão é roubada à alcunha do adestrador mexicano Cesar Millan, mas assenta que nem uma luva a este lisboeta. “É verdade que consigo olhar para um cão e avaliá-lo quase de imediato. Se isso é ser encantador... então, OK! Não fico chateado. Mas não faço milagres”, ri-se.

Tudo começou quando, durante um passeio com um cão de um amigo, um desconhecido lhe perguntou se ele não queria ensinar os seus animais. Miguel Duvall não disse que não e, de lá para cá, já treinou cerca de 400. À prática, baseada naquilo que diz surgir de forma “natural”, adicionou dois cursos técnicos. Frisa, ainda assim, que é na rua, como líder de matilha, que ganha “bagagem”. “Isso não se aprende nas escolas”, diz.

É em Alvalade, em Lisboa, que o encontramos. Percorre todas as manhãs cerca de 25 quilómetros com uma dezena de caninos, uma amostra dos cerca de 60 – de todas as formas, cores e feitios – que tem ao seu cuidado nesse bairro. 

Há os que precisam apenas de esticar as patas (por um passeio nunca inferior a 60 minutos cobra 10 euros) e aqueles que necessitam de educação e esquecer “o medo” que, regra geral, lhes foi transmitido pelos donos. “Eu posso encantar cães, mas os humanos é mais complicado”, brinca. Porque é mesmo o Homem queprecisa de aprender a liderar e esse é o “grande desafio”. “Os cães seguem-me”, acrescenta. 

A Miguel Duvall juntam-se, desde o primeiro dia, Átila e César, que é como quem diz o pastor-alemão de pelo comprido e o pastor-branco-suíço, que ajudam a manter os restantes “na linha”. São eles que, em última instância, lidam mais de perto “com os casos nervosos”. “Os meus cães passam calma aos outros e recebem o stress, o que me obriga a cuidar muito deles”, justifica.

E o que é que isso significa?, perguntamos-lhe. “Que eu dedico-lhes a minha vida”, responde.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: DR

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