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Maternidade

10 razões para não deixar o seu bebé a chorar até adormecer

Seg, 09/03/2020 - 16:10

Todos os pais têm uma necessidade de sono e, por isso, é completamente normal que se tentem todos os métodos, para acalmar o bebé e conseguir dormir.

Os bebés podem ser desgastantes, especialmente os bebés que são considerados «bebés difíceis» que têm uma elevada necessidade de conforto durante horários pouco «higiénicos», tipo três ou cinco da manhã.

Devido a isso, os pais foram aconselhados a usar técnicas como as do «choro controlado» (CIO) para adormecer os seus pequeninos.

Todos os pais têm uma necessidade de sono e, por isso, é completamente normal que se tentem todos os métodos, para acalmar o bebé e conseguir dormir.

Dito isto, deixar os bebés a chorar para adormecer, por um sem número de razões não é a melhor decisão! Aqui estão dez delas.

1- O principal argumento desta abordagem é o de que os bebés precisam de aprender a «acalmar-se» sozinhos e, em consequência disso, conseguirem adormecer sem a ajuda da mãe ou do pai. E que isto se consegue se deixar o bebé a chorar e não responder de imediato ao seu choro (as suas necessidades) ele eventualmente irá aprender a confortar-se e a adormecer sozinho. Na realidade a mensagem que está a passar ao seu bebé é a de que deve «desistir de esperar que se importe com ele»! Que mensagem dura, para um bebé tão pequenino!!!

2- O sentimento angústia infantil interfere com o desenvolvimento do cérebro dos bebés. A pesquisa científica tem demonstrado que o stress liberta cortisol adicional nos bebés e destrói conexões nervosas no cérebro. Algumas áreas do cérebro afetadas pelo stress severo são o sistema límbico, o hemisfério esquerdo e o corpo caloso. Outras áreas que podem ser afetadas são o hipocampo e o córtex orbitofrontal. Bebés que sofrem situações de «negligência precoce» também têm cérebros menores que os outros bebés, em consequência desse stress vivenciado.

3- Os bebés choram para exprimir as necessidades e se não somos capazes de lhes responder, claramente não os estamos a atender. Um bebé pode chorar porque tem uma infeção no ouvido, tem fome, tem dores de dentes, está a sentir-se só ou está com medo, entre outras razões igualmente válidas. Quando não aparece ninguém para o alimentar, confortar, tranquilizar ou simplesmente aconchegar, o bebé pode desistir de chorar, mas ainda assim, irá continuar com fome, triste, com medo ou com dor. A única coisa que «melhora» é o facto de que o bebé deixa de chorar e assim os pais começam a dormir a noite toda!

4- A mensagem fundamental dos métodos que envolvem o choro é a de que as necessidades e desejos dos pais são mais importantes do que o bebé.

5- As pesquisas têm concluído que, durante o método «choro controlado» (CIO), os bebés passam por fases previsíveis. A primeira fase, chamada de «protesto», consiste num choro alto e agitação extrema. A segunda fase, identificada como «desespero», consiste num choro monótono, acompanhado de inatividade e retirada emocional. A terceira fase, chamada de «desapego», consiste num renovado interesse, embora se trate de um interesse remoto e distante. Concluindo que, deixar os bebés a chorar pode levar à eventual dissipação desses gritos, devido ao desenvolvimento gradual de apatia na criança.

6- Outros estudos demonstram que os bebés que foram criados com métodos de «choro controlado» (CIO) têm uma probabilidade 10 vezes superior de vir a desenvolver hiperatividade e déficit de atenção, mais tarde.

7- O método «choro controlado» (CIO) dessensibiliza os pais em relação ao choro dos seus bebés. Em termos de sobrevivência da espécie, o choro do bebé está desenhado para ser difícil e quase insuportável de ouvir, por uma razão muito concreta: para que os pais vão depressa «acudir» os bebés e às suas necessidades. Quando os pais são orientados a não responderem quando ouvem os gritos/choro do seu bebé, no quarto ao lado, geralmente isso implica que tenham que «desligar» a sua resposta empática natural e automática de resposta aos sons de angústia dos seus filhos. Não existe um botão para ligar/desligar este instinto, ou para poder reconstruir a conexão natural durante o dia ou em horários mais convenientes.

8- Outro estudo concluiu que o facto dos bebés eventualmente pararem de chorar e adormecerem não é tão inócuo assim. O que acontece é que o bebé deixa de chorar, os pais deixam de o ouvir e os níveis de cortisol (hormona do stress) dos pais desce, porque deixam de estar preocupados com o choro do bebé. No entanto, os níveis de cortisol elevados do bebé, aquando o choro, mantêm-se elevados durante os três ou quatro dias subsequentes, embora já não expressem o seu stress e angústia através do choro. Com todos os danos para as redes neuronais, do excesso de cortisol.


9- Um outro estudo concluiu que os bebés que tinham sido deixados a chorar excessivamente (e que não exibiam sintomas de cólica) em média obtêm classificações mais baixas em testes de QI e apresentaram também atrasos ao nível da motricidade fina.

10- Outros pesquisadores descobriram que bebés com choro excessivo durante os primeiros meses de vida, mostraram mais dificuldade em controlar as suas emoções, tornando-se bebés ainda mais exigentes em termos de consolo aos 10 meses. Uma pesquisa mostrou ainda que esses bebés têm uma qualidade mais irritante no seu choro, são mais dependentes durante o dia e demoram mais tempo a tornarem-se independentes enquanto crianças.

Se Richard Ferber, (considerado por muitos como o pai do movimento CIO) admitiu, numa entrevista em 1999 no New Yorker, que «algumas crianças são ‘intreináveis’ – elas simplesmente não vão parar de chorar. Muitos gritam até vomitar ou desmaiar, mas nunca chegar a esse final perfeito prometido. No momento em que os pais percebem que esse método nunca vai funcionar com os seus bebés, já lhes foi causado um enorme dano – fisicamente, neurologicamente, emocionalmente e muito mais! E para os pais para quem o trabalho resultou?! Foi a que custo?!»

Forçar a «independência» do bebé leva a maior dependência, enquanto que, dar aos bebés o que eles precisam, gera maior independência no futuro.

Para mim, pessoalmente, e para muitos pais, nem sequer se coloca a questão de «quanto tempo posso/devo deixar o meu bebé a chorar?» porque simplesmente ignorar o choro do bebé não é uma hipótese! Isso simplesmente vai contra os nossos instintos parentais naturais de amar, cuidar e estar lá para os nossos bebés!

O que acontece é que muitas vezes os pais sentem exatamente o mesmo, mas são pressionados por amigos, família e até profissionais de saúde para usar estes métodos de «choro controlado». Sim, porque no que toca a bebés, toda a gente tem opinião (pena que muitas vezes, pouco ou nada fundamentada).

Texto: Psicóloga pediátrica Clementina Almeida, mentora do projeto ForBabies Especialistas em Bebés

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