Saúde e Beleza
Jorge Cruz

Este médico salva vida todos os dias

Sex, 02/08/2013 - 16:32

Conheça a cirurgia torácica minimamente invasiva de uma
só incisão que apenas existe em Portugal e na Corunha,
e que o especialista português Jorge Cruz utiliza para salvar
vidas no Hospital da Cruz Vermelha, em Benfica.

Há duas décadas, Jorge Cruz percebeu que a cirurgia minimamente invasiva era o futuro, porque “nós, cirurgiões, temos que tratar o paciente da melhor forma tecnicamente possível, mas com o menor sofrimento alcançável”.

Foi por isso que este médico, coordenador da unidade de cirurgia minimamente invasiva do Hospital da Cruz Vermelha, se tornou pioneiro de uma revolucionária operação contra o cancro no pulmão, que só existe em dois lugares do Mundo. O professor universitário explica que a dor é, claro, uma questão de sofrimento... mas não só. “Quando os pacientes têm menos dores, o que acontece sempre que os operamos por cirurgia videoassistida, seja com uma única incisão (como no caso desta cirurgia) ou com três, além de haver, por isso, muito maior conforto, há também menos complicações!”.

Isto porque, muitas vezes, as complicações pós-operatórias são provocadas pela própria dor e desconforto. Portanto, uma cirurgia minimamente invasiva, especialmente se for só com uma incisão de cinco centímetros (como a inovadora operação de Jorge Cruz) implica um internamento mais suave e mais curto. O doente vai para casa mais cedo, e, assim, há muito menos hipóteses de infecções hospitalares.

Esta cirurgia oncológica pulmonar de incisão única e videoassistida, realizada apenas no Hospital da Cruz Vermelha e na Corunha, tem também óbvias vantagens estéticas, por exigir um único corte, e bem pequeno. Na Cruz Vermelha, através deste método não-invasivo, Jorge Cruz consegue efetuar cirurgias relacionadas com cancro no pulmão, biopsias pulmonares e diversas outras doenças.

Além das grandes cirurgias que salvam vidas, também faz pequenas operações, simples e importantes. Por exemplo, a que cura a hiperidrose – doença das pessoas que transpiram muito. “Fazemos uma cirurgia que cria um pequeno buraquinho por baixo das axilas – inferior a um centímetro – com o objetivo de cortar dois ou três gânglios simpáticos. Estes pacientes, normalmente, utilizam tratamentos de toxina botulínica, ou cremes, mas todas essas terapêuticas são meramente temporárias, ao passo que a operação é a única definitiva.”

Faz-se a mini-incisão, e, depois, o doente tem alta no dia seguinte – é quase uma cirurgia em ambulatório. A cirurgia minimamente invasiva, por incisão única e videoassistida, além de ter múltiplas utilizações, deverá ser no futuro, acredita Jorge Cruz, a forma dominante de operar o tórax. “A tendência será que se torne um procedimento em ambulatório, com 24 horas de internamento. Neste momento, estamos nas 48.”

No que respeita ao tórax, e à forma única de operar empregue por este médico, pode dizer-se que tal tratamento pioneiro tem “duas histórias”. A dele, e a do seu colega de profissão que efetua o mesmo tipo de tratamento na Corunha. Até 1993, o especialista português só fazia cirurgia cardíaca, pelos processos comuns que existiam na época. Nessa altura, começou a falar-se na videoassistida e minimamente invasiva, o que, desde logo, o entusiasmou muito. Hoje, acha que “o cirurgião que não a faça é um cirurgião ‘morto’” – divorciado do futuro.

Nos EUA, 30% das operações são feitas desta forma. No mesmo ano de 1993, Jorge Cruz foi para Zurique aprender tudo sobre esta forma de tratamento e diagnóstico. E, na altura, o procedimento que usava consistia em três incisões. A diferença é que os seus colegas de profissão a faziam e fazem por trás, e ele pela frente. A nova cirurgia pulmonar de tratamento do cancro em que o clínico se especializou “só se consegue fazer bem pela frente”, e, como Jorge Cruz entretanto já estava habituado a trabalhar dessa maneira, foi uma evolução natural: “Passei por várias fases nesse processo, e depois, naturalmente, vim ter à pequena incisão única, sem abrir o doente.”

Na Corunha, esta operação começou a ser feita há ano e meio, ao passo que Jorge Cruz se dedica a ela desde novembro de 2012. “Fui lá, estive dois dias a ver o procedimento, voltei e passei a fazê-lo aqui.” Na Cruz Vermelha, desde novembro, já se fizeram mais de 50 destas cirurgias.

Já entrou na nossa rotina. Aliás, já se tornou uma anormalidade fazer o contrário: abrir o paciente. Em vez de olhar para dentro do paciente olhamos para o ecrã, o que tem muitas vantagens. Duplica o tamanho das estruturas e órgãos, e permite-nos chegar a sítios que são impossíveis de alcançar de outra maneira.” Logo, o campo cirúrgico de intervenção dos miniinstrumentos também cresce exponencialmente.

E as aplicações do pioneiro método cirúrgico são difíceis de contar. Incluem patologias da pleura, pneumotórax, hemotórax, vários tipos de tumores, cancros do pulmão, metástases pulmonares, derrames pericárdicos, “todos os tipos de problemas imagináveis relacionados com o tórax”. Escusado será dizer que a cirurgia, só em Portugal, salvou já dezenas de vidas – e, ainda por cima, “com conforto, sem dor”.

Mais uma vantagem: com esta técnica, os pacientes “têm menos medo da cirurgia. Ouvi, no outro dia, uma interessante descrição do nosso trabalho, algo deste tipo: ‘Eles têm lá um arpãozinho, que entra dentro do corpo e tira o tumor’”.

Guiados por este conceito mais reconfortante do que o cenário normal, os pacientes aparecem no hospital muito mais tranquilos antes da intervenção. E se este procedimento serve de operação para curar o cancro do pulmão, também é utilizado para fazer o diagnóstico desta doença. Tanto os cancros pulmonares como as metástases no pulmão se manifestam por um nódulo neste órgão. “Muitas vezes, mesmo após fazer a biopsia, não sabemos de que se trata. Isso leva a que, nessas situações, façamos o diagnóstico durante a operação. Tiramos uma amostra para observação, e, se for cancro, fazemos um tratamento. Se for outra coisa fazemos outro.”

No caso das metástases, há as situações em que elas aparecem no pulmão mas são provocadas por um tumor diferente – por exemplo, o cancro do cólon: um dos muitos cenários em que esta cirurgia pode servir de diagnóstico.

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