Saúde e Beleza
A doença das articulações

O que é a osteoartrose?

Qui, 13/10/2016 - 12:26

É uma doença que está associada ao envelhecimento e ao desgaste natural das articulações, Em que ocorre uma destruição da cartilagem óssea, causando dor, deformação e incapacidade. Nos desportistas, e em certas atividades profissionais que exigem o uso de algumas articulações (ombro, joelho, anca, cotovelo), a artrose pode surgir em idades muito jovens.

1O PONTOS ESSENCIAIS SOBRE OSTEOARTROSE

Dor, inchaço e rigidez articular são alguns dos sintomas mais frequentemente reportados por quem sofre de osteoartrose e que, progressivamente, vai vendo condicionada a sua funcionalidade e qualidade de vida.

Conhecida como “a doença do envelhecimento”, uma vez que está relacionada com o desgaste natural das articulações, a osteoartrose pode também afetar pessoas jovens, sobretudo os atletas de alta competição que, em determinadas modalidades, usam e abusam das suas articulações. Na semana em que se assinala o Dia Mundial da Osteoartrose, desafiámos Henrique Jones a responder a dez questões sobre esta patologia. O antigo médico da Seleção Nacional de futebol e atual diretor da Clínica Ortopédica do Montijo aceitou o desafio e explicou à NOVA GENTE tudo o que se deve saber sobre osteoartrose.

 

1. O QUE É A OSTEOARTROSE?

A osteoartrose é uma doença degenerativa que envolve desgaste osteoarticular. É caracterizada por uma perda progressiva da cartilagem e deformação marcada das margens articulares. Contudo, o problema não está limitado à articulação, uma vez que se estende também aos tecidos periarticulares, isto é, os tecidos que envolvem a articulação. Trata-se de uma doença multifatorial que tem na sua origem fatores genéticos, bioquímicos, metabólicos e mecânicos. Hoje em dia, começa também a ser conhecida como a doença do condrócito, que é a célula responsável pelo equilíbrio da renovação/degradação da cartilagem. Ou seja, a artrose ocorre quando o ritmo da renovação da cartilagem não acompanha o ritmo da sua degradação.

 

2. QUANTOS PORTUGUESES SOFREM DE OSTEOARTROSE?

A prevalência, isto é, o número total de casos, na população portuguesa, de acordo com os resultados do EpiReumaPT (Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal), é, no caso da artrose do joelho, 12,4% (15,8% nas mulheres e 8,6% nos homens). Na artrose da anca, cerca de 4%, e na artrose da mão, 8,7%, também com maior prevalência no sexo feminino. Em Portugal, a artrose do joelho afeta cerca de 560 mil pessoas, enquanto a da anca atinge 280 mil.

 

3. É UMA DOENÇA DO ENVELHECIMENTO?

É uma doença, ou uma situação clínica, que muitas vezes cursa paralelamente ao envelhecimento global do organismo. A osteoartrose é uma das doenças crónicas mais frequentes na atualidade e, com o aumento da esperança de vida, quer a sua prevalência quer a sua incidência (número de novos casos) tendem a aumentar. Esta patologia é progressiva e está associada a uma perda funcional e da qualidade de vida. Além disso, gera dificuldades marcadas nas atividades do quotidiano, com impacto em termos sociais, familiares, profissionais, e com importante consumo de recursos de saúde, englobando tratamentos conservadores, medicamentação, tratamentos cirúrgicos e apoio social.

De acordo com as Nações Unidas, prevê-se que a população idosa, que na década de 90 estava quantificada em 330 milhões, no ano 2050 seja de 1500 milhões. Ou seja, num espaço de 50 anos esse número irá quintuplicar. Da mesma forma se prevê um aumento exponencial da prevalência de osteoartrose.

 

4. QUAIS AS PRINCIPAIS CAUSAS DA OSTEOARTROSE?

Os principais fatores, além da associação genética e de hereditariedade, são o excesso de peso, o desalinhamento dos membros inferiores (desvios axiais), atividade laboral intensa, prática desportiva intensa, distúrbios hormonais, doenças associadas (reumatismais, imunológicas, entre outras).

 

5. COMO SE MANIFESTA? QUAIS OS SINTOMAS?

Dor mecânica (por vezes intensa e incapacitante) que agrava com o exercício, carga, tempo chuvoso, mas melhora com o repouso; derrame articular (inchaço das articulações), limitação no movimento da articulação e rigidez articular matinal são os sintomas mais frequentemente reportados.


 

6. É POSSÍVEL PREVENIR A PROGRESSÃO DA OSTEOARTROSE?

A prevenção passa, sobretudo, pela correção dos fatores de risco controláveis. A perda de peso é fundamental, bem como a prática desportiva de baixa ou moderada intensidade A hidroginástica, marcha (nunca superior a 30-45 minutos três vezes por semana), bicicleta e fortalecimento muscular orientado (ginásio) são de grande importância, sobretudo nos membros inferiores. A fisioterapia nas situações de agudização (artrite), o controlo medicamentoso das patologias associadas e a utilização de fármacos que atrasam a evolução da artrose (condroprotetores e viscossuplementos) são fatores de grande importância na prevenção.

 

7. DE QUE FORMA PODE CONDICIONAR A PRÁTICA DAS ATIVIDADES DO DIA-A-DIA E DA QUALIDADE DE VIDA?

A intensidade da dor, a rigidez das articulações, o inchaço, a limitação funcional nos gestos mais simples (puxar as meias, atar os sapatos, descer ou subir escadas, entrar ou sair do carro) ou na marcha condicionam a vida diária e afetam a qualidade de vida, sobretudo quando falamos das grandes articulações dos membros inferiores. No caso da coluna vertebral ou das pequenas articulações (pés e mãos, por exemplo), a dor e os sinais inflamatórios recorrentes podem ser muito limitativos.

 

8. EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS OS DOENTES TÊM DE RECORRER AO TRATAMENTO CIRÚRGICO?

Existem, felizmente, muitas etapas antes do tratamento cirúrgico final, que é a substituição da articulação por uma prótese.

Quando as medidas de higiene de vida falham, quando os medicamentos falham, quando a fisioterapia falha, quando as injeções intra-articulares com corticoides, ácido hialurónico ou plasma rico em plaquetas falham, ou quando já não existe indicação para toilette articular por artroscopia, então a prótese é o único recurso para resolver a dor e restituir a funcionalidade.

 

9. UMA VEZ QUE A DOR ALIVIA COM O REPOUSO, OS DOENTES DEVEM EVITAR O EXERCÍCIO?

A dor na artrose surge sobretudo com a carga (andar) e é por isso denominada de dor mecânica, mas, embora o repouso seja importante, os doentes deverão procurar fazer algum exercício físico ligeiro ou moderado, no sentido de manterem a funcionalidade articular e evitar a rigidez. No caso do joelho e da anca, exercícios de baixa intensidade e frequência atuam positivamente sobre a articulação. Ficar parado não é a melhor solução, até porque isso iria favorecer o ganho de peso que, por sua vez, agravaria a artrose. Seguindo os conselhos anteriormente referidos, é possível controlar os sintomas e a evolução da doença com uma aceitável qualidade de vida e com capacitação para as atividades do dia-a-dia.

 

10. O DESPORTO PODE CAUSAR OSTEOARTROSE?

O desporto é uma fonte de pressões e cargas cíclicas nas articulações, por vezes de grande intensidade. Assim, sobretudo as articulações dos membros inferiores (anca, joelho e tornozelo) são sobrecarregadas repetitivamente. Por esse motivo, os antigos desportistas têm uma prevalência de artrose grave com necessidade de cirurgias de ressecção (próteses) quatro a seis vezes superior à da população em geral. No caso de cirurgias prévias (lesões meniscais, cartilagíneas ou ligamentares), esta prevalência aumenta exponencialmente, sobretudo na articulação do joelho.

 

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