Nacional
Crónica de Francisco Guerreiro

A Cultura e o Estado laico não praticante

Qui, 21/01/2021 - 17:30

O confronto entre duas realidades na gestão da pandemia. Por um lado, os eventos religiosos são permitidos pela Direcção-Geral de Saúde, por outro os eventos culturais são permitidos.

Portugal tem, nas últimas semanas, feito manchete a nível internacional pelos piores motivos, seja pelo escândalo (mais um) da nomeação de José Guerra para procurador europeu, como pelos números recorde de infectados por COVID-19.

Mas, a nível nacional, há um tema fundamental que abala (também mais uma vez) a confiança dos portugueses nas decisões governamentais em relação à gestão da pandemia. A discriminação entre eventos religiosos, que são permitidos pela Direcção-Geral de Saúde, se cumprirem as normas higieno-sanitárias, e os eventos culturais, cuja realização é (outra vez) proibida. E aqui, nesta discriminação, por mais que se queira justificar a acção por motivos de saúde pública, há claramente um confronto entre duas realidades similares que apenas mudam pela sua índole. Uma é religiosa, outra é cultural.

Num Estado laico, mesmo considerando este novo Estado de Emergência, a regra sanitária em ambos os sectores deverá ser idêntica por forma a não fomentar (mais) desconfiança nas decisões políticas, que se mostram, perante os factos, mais susceptíveis à pressão das sensibilidades que dos pareceres científicos.

Com isto não quero, nem me vou substituir aos responsáveis de saúde pública que têm feito um exímio trabalho num cenário de poucos meios e recursos, mas importa não nos deixarmos levar por sensacionalismos sectoriais políticos. Estar contra este Estado de Emergência é irresponsável, mas punir um sector inteiro, que já vive no limiar da destruição, por incoerentes decisões políticas é irracional e cruel.

É caso para dizer que não morrendo da COVID-19, "morre-se" dos efeitos do confinamento.

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

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