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Crónica de Francisco Guerreiro

Ambientalista não é. Mas devia ser.

Ter, 09/02/2021 - 16:10

Infelizmente, esta atitude de Matos Fernandes não é única no Mundo. É por consecutivos desprezos pelos alertas das associações ambientais que estamos a cerca de seis anos de atingir “o ponto de não retorno”, aquele em que nada mais poderemos fazer para salvar a Humanidade de uma catástrofe ambiental.

A semana passada, numa audição no Parlamento, o Ministro do Ambiente e Acção Climática foi questionado sobre o Fundo Ambiental e o financiamento para a conservação da Natureza, incluindo o co-financiamento de projetos do Programa LIFE da UE. Matos Fernandes respondeu: “…viva a opacidade, viva a falta de transparência, deem lá dinheiro aos rapazes que eles estão aflitos”. Os “rapazes” a que se referia são ambientalistas, associações de conservação da Natureza, cientistas, professores, sociólogos, biólogos, voluntários, entre tantos outros. A resposta dos ambientalistas não se fez esperar. Numa carta assinada pela Coligação C6 (ANP, Quercus, GEOTA, FAPAS, SPEA, LPN), acusam o Ministro de injustiça e lembram tudo o que foi realizado em Portugal desde 1948, “quando ainda não existia, nem se sonhava que viesse a existir, o Ministério do Ambiente”, frisando que “o Senhor Ministro cria cisões em lugar de promover a colaboração”.

Infelizmente, esta atitude de Matos Fernandes não é única no Mundo. É por consecutivos desprezos pelos alertas das associações ambientais que estamos a cerca de seis anos de atingir “o ponto de não retorno”, aquele em que nada mais poderemos fazer para salvar a Humanidade de uma catástrofe ambiental. Donald Trump retirou os E.U.A. do Acordo de Paris (medida felizmente revertida por Joe Biden). No Brasil, Jair Bolsonaro desencadeou um verdadeiro ataque à Amazónia e ao Pantanal, ao ignorar a gravidade dos incêndios e favorecendo a pecuária intensiva, a principal causa de desmatamento no país.

Pois, o Ministro do Ambiente não é “de todo ambientalista”, como, de resto, afirmou em 2018. Mas devia. Até porque se os políticos tivessem seguido os conselhos ecologistas e as evidências científicas, não estaríamos na actual crise climática. Teríamos, sim, construído uma sociedade resiliente, descentralizada e harmoniosa na relação entre as liberdades individuais e as instituições públicas, sejam elas locais, regionais, nacionais e europeias.

Texto: Francisco Guerreiro, Eurodeputado

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