Documento
Crónica de Francisco Guerreiro

2021 será mais um 2020

Seg, 11/01/2021 - 17:40

Todos os indícios científicos apontam para que este vírus tenha passado de um animal selvagem, mas comercializado para consumo humano, num mercado húmido na República Popular da China, e que depois se propagou rapidamente pelo Globo devido à nossa interação e interligação transnacional galopante.

Todos sentimos e sabemos que 2020 será recordado pelos motivos menos positivos possíveis, nomeadamente porque se agudizou a crise de saúde pública, que gerou uma crise social e económica, com a propagação da pandemia. E apesar de o ano ter terminado com a notícia de que já existem no mercado, e começam a ser distribuídas e inoculadas, as vacinas para a COVID-19, não devemos esquecer a crise de fundo que ajudou a iniciar esta catadupa de eventos: a crise climática e da preservação da biodiversidade.

Todos os indícios científicos apontam para que este vírus tenha passado de um animal selvagem, mas comercializado para consumo humano, num mercado húmido na República Popular da China, e que depois se propagou rapidamente pelo Globo devido à nossa interação e interligação transnacional galopante. Este acelerar consumista, seja pela produção, distribuição e consumo de bens alimentares ou de serviços, gera diariamente uma pressão incomensurável nos “nossos” sistemas ecológicos, nacionais ou internacionais. Em 2020, esgotámos os recursos naturais do planeta a 22 de agosto, o Dia da Sobrecarga da Terra, um mês mais tarde do que o habitual, porque a pandemia travou as emissões poluentes, mas promete voltar tudo ao mesmo, assim que a Humanidade recuperar a “vida normal”, o que se manifesta numa bomba-relógio biológica, à espera de rebentar, que não terminará com a imunização individual ou grupal deste ou de qualquer outro vírus. Se continuarmos a consumir como fazemos, sem proteger os recursos terrestres e marinhos, e sem alterar o modo como individualmente predamos o ambiente – tal como validamos partidos políticos presos a ideologias do século XIX e que não colocam como prioridades o bem-estar animal, o ambiente ou a sustentabilidade –, podemos ter a certeza de que as próximas décadas serão todas como 2020. Mas o cenário não tem que ser negro, muito pelo contrário. Haja vontade pessoal de mudança. Contem comigo, estamos juntos!

Texto: Francisco Guerreiro, eurodeputado

 

Siga a Nova Gente no Instagram