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Alerta Vermelho

Praias podem desaparecer

Sex, 21/06/2013 - 16:41

No mês em que se celebra o Dia Mundial
dos Oceanos, relembramos as modificações
que se verificam na orla costeira, as zonas
de risco – de norte a sul de Portugal – e
o que tem sido feito pelo Governo para
travar a guerra entre o mar e a terra.

O fenómeno da erosão costeira do litoral português é um tema investigado há muitos anos e que continua a ser explorado pelos especialistas da área. A 8 de junho celebrou-se o Dia Mundial dos Oceanos e – uma vez que o verão se aproxima – a NOVA GENTE mostra-lhe as modificações que se têm verificado na nossa costa (e não só).

Portugal é um dos países europeus mais afetados por este processo (devido a fenómenos naturais e à intervenção do Homem), apesar de 80% da população viver no litoral e de 85% da riqueza produzida no País ter origem junto ao mar. Uma coisa é certa: há um avanço do mar em todas as regiões, o que faz com que as praias tenham cada vez menos areia. Isto quer dizer que existem praias no nosso país que podem vir a desaparecer?

"O processo erosivo sempre existiu e irá continuar a existir. Não nos podemos esquecer que a Ria de Aveiro no século X era um golfo que se foi enchendo de sedimentos oriundos do rio Douro e do Vouga até formar a Ria como ela é hoje. A fixação da população nas zonas costeiras e dos aglomerados populacionais, em particular de ruas marginais, conduziu à perceção de perda de áreas costeiras, neste caso praias. Isto porque as cidades são pontos fixos e de difícil alteração a curto prazo."

A resposta é de Joaquim Pais Barbosa, docente da Universidade Lusófona do Porto e especialista em Tecnologias de Informação Geográfica aplicadas à Engenharia Costeira e Gestão de Recursos Hídricos. As zonas críticas do País ficam, segundo este estudioso, localizadas na região Norte, em Foz do Lima (Aguçadoura); na região Centro, em Espinho (Torreira), Praia da Barra (Mira) e Costa de Caparica; e na região Sul, em Quarteira e Cacela Velha.

A zona costeira portuguesa apresenta em grande parte da sua extensão graves problemas e são várias as notícias de incidentes relativos a inundações, destruição de infraestruturas e obras de defesa, rutura e galgamentos de dunas e erosão costeira.

"Estes factos devem-se às elevadas pressões demográficas, urbanísticas, económicas e turísticas; à redução das fontes sedimentares, geralmente consequência da regularização total ou parcial de troços fluviais; à construção de estruturas transversais de defesa costeira e portuárias; à dragagem de canais e bacias portuárias; e à extração de sedimentos nos leitos fluviais. Por um lado, o planeamento e gestão por vezes desadequado, por outro a subida generalizada do nível médio das águas do mar e as alterações climáticas associados à persistência e intensidade das tempestades, são fatores também importantes e que contribuem para o processo erosivo da costa portuguesa", acrescenta Joaquim Barbosa.

Quando faltava um mês para a abertura da época balnear, o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (MAMAOT) disse à Lusa que têm sido feitas recargas de areia nos locais mais “críticos”, sobretudo no norte e centro do País, antes das marés vivas, de modo a evitar “prejuízos”.

Recargas estas que, na opinião do especialista que entrevistámos, fazem todo o sentido: "A alimentação artificial de praias, com areias oriundas, por exemplo, da dragagem dos canais de navegação ou da plataforma continental é, sem dúvida, uma solução para minimizar esta perda. A maioria das estruturas portuárias estão localizadas em estuários e por razões de segurança e navegabilidade é necessário dragar os canais de navegação. Deste modo, uma solução é a colocação deste material dragado (areia), se apresentar boas condições ambientais, na praia – caso da Costa de Caparica. Introduzem-se assim artificialmente areias que são fundamentais para a minimização dos desequilíbrios sedimentares existentes, sendo necessária a recarga da praia ciclicamente e de acordo com as características da dinâmica local (ondas, mares)."

Para o também consultor técnico da Simbiente – Engenharia e Gestão Ambiental, desde 2008, "as praias são uma excelente 'infraestrutura' de defesa das zonas costeiras. São elementos 'vivos' que se ajustam às condições marítimas. Assim sendo, a perda de areia no inverno e o ganho no verão é um processo que ocorre naturalmente. Mas em muitos casos estas perdas de areia no inverno não são compensadas pelos ganhos no verão e temos então a erosão, que se observa na redução generalizada da largura das praias."

O Governo sublinha que existem falhas no ordenamento territorial da orla costeira e Joaquim Barbosa confirma que há construções em risco: "Há zonas urbanas vulneráveis aos efeitos da agitação marítima, em particular em períodos de tempestades de grande persistência e intensidade. Mas a grande maioria das zonas vulneráveis estão defendidas por engenharia pesada."

Mónaco conquista mar para construir
Saindo do Atlântico em direção ao Mediterrâneo, deparamo-nos com as notícias que chegam do Mónaco. Trezentos e cinquenta mil metros quadrados vão ser roubados ao mar, para a construção daquele que será o mais ambicioso projeto urbanístico da história do principado e até da história da construção de luxo da nossa civilização.

Este megaprojeto lançado pelo príncipe Alberto II tem como objetivo ampliar a superfície urbanizável, criando uma nova cidade ecológica com um “bairro” residencial aquático e parcialmente submarino, destinado a negócios cosmopolitas, ao ócio e ao luxo.

Convém lembrar que este pequeno Estado na Côte d’Azur é muito procurado como residência de milionários, até porque é um paraíso fiscal. Sendo este um Estado que tem apenas dois quilómetros quadrados de superfície, 350 mil metros quadrados é, de facto, uma área considerável. Após cinco anos de espera, Alberto do Mónaco, motivado pelos seus conselheiros financeiros, considera que chegou o momento de realizar o projeto de extensão do principado e em breve vários construtores internacionais serão convidados a apostar nesta ideia megalómana.

A extensão no mar, do tamanho de dez campos de futebol, acrescentaria cinco por cento ao atual território do Mónaco, onde já praticamente não existe espaço para construir. O principado acaba, assim, por ser um verdadeiro paraíso para os arquitetos.

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