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1985

Um ano de boa colheita em Hollywood

Ter, 02/06/2015 - 10:55

Passaram 30 anos. 1985 foi marcado por uma série
de filmes que resultaram em estrondosos sucessos
de bilheteira. Do drama à comédia, do romance
à aventura e aos clássicos da adolescência, há histórias para todos. A criatividade foi rainha, mas uma
nova geração de atores e realizadores é também responsável por esta coincidência.

Nos idos anos 80, quando a televisão e o cinema ocupavam grande parte da vida dos jovens e das crianças, cada filme ou série emitidos eram bebidos pelos espetadores como refrescos em tardes quentes de verão. O ano de 85 foi, nesse aspecto, de ouro. Por razões que poucos conseguem explicar – até porque pode ser somente uma feliz coincidência – foram muitos os êxitos que saíram dessa fornada de filmes ao longo dos 12 meses desse ano. A propósito da estreia recente de Mad MaxEstrada da Fúria, celebram-se 30 anos sobre a estreia do último filme da trilogia, aquele em que entra Tina Turner, que saltou para o grande ecrã em 1985. No entanto, há mais, muitos mais. 

Breakfast Club 

– O Clube

Don’t You Forget About Me diz-lhe alguma coisa? Sim, é um tema dos britânicos Simple Minds e foi imortalizado pelo filme Breakfast Club, que em Portugal recebeu o nome de O Clube. Uma película de jovens, sobre jovens, que se tornou um culto. Escrito e realizado por John Hughes, este filme conta a história de cinco adolescentes que, por castigo e detenção, foram obrigados a passar o dia de sábado na biblioteca da escola secundária. Tinham como tarefa escrever um texto de 1000 caracteres sobre eles próprios. Com o avançar do enredo, os protagonistas dão-se conta de que têm muito em comum uns com os outros e que são mais profundos do que aquilo que a sociedade pensa acerca deles. Do elenco fizeram parte a musa de Hughes, Molly RingWald, Anthony Michael Hall, Emilio Estévez, Judd Nelson e Ally Sheedy. Os três últimos entraram, no mesmo ano, noutra película que acabou por também esgotar salas de cinema: St. Elmo’s FireO Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas.

St. Elmo's Fire 

Em Portugal chamou-se O Primeiro Ano do Resto das Nossas Vidas e foi realizado por Joel Shumacher. Além dos três atores acima citados, esta película funciona como uma antevisão de uma geração que viria a marcar presença assídua no silver screen das décadas seguintes. Demi Moore, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Andie MacDowell, Jenny Wright, Blake Clark e Martin Balsampensaram que podiam ser amigos para sempre, mas sempre não podia durar eternamente”. Esta geração de ouro brilhou e encantou  durante os 110 minutos do filme. O fim da vida de estudante é o ponto de partida da ação. Acabam-se os livros, mas continua a confusão típica dos tempos de aulas. Há quem  procure encontrar trabalho. Existe a típica menina respeitável, trabalhadora e virgem apaixonada por quem não lhe liga nenhuma; quem leve a vida nos limites; quem questione a sexualidade. Enfim, as questões típicas de quem entra na fase adulta, mas acabou a adolescência dias antes. Um pouco por todo o mundo, foram muitos os jovens que se identificaram tanto com os rebeldes detidos na biblioteca da escola como com a juventude perdida com a entrada na vida adulta.

África Minha

Bem mais maduro, longe das aventuras e desventuras urbanas, decorre a ação de África Minha. O megassucesso internacional, protagonizado por duas das maiores estrelas de Hollywood, Meryl Streep e Robert Redford, passa-se nas planícies do Quénia. Inspirado num livro de Karen Blixen, ali vive-se a história de uma mulher independente que dirige uma plantação de café. Casada por conveniência, apaixona-se por um misterioso caçador. Este filme ganhou no total 23 prémios, entre os quais sete Oscars da Academia de Hollywood. Adaptado para o cinema pelo escritor Kurt Luedtke, o filme foi realizado por Sydney Pollack. A ideia deste filme não foi pioneira, pois já outros a tinham tentado antes – um deles tinha Greta Garbo como protagonista e outro Audrey Hepburn

Goonies

Escrito (e produzido) por Steven Spielberg e Chris Columbus, e realizado por Richard Donner, este foi um dos maiores sucessos de bilheteira do ano inteiro.  A cantora Cyndi Lauper, que na altura ocupava os lugares cimeiros dos tops de vendas da música pop norte-americana, interpretou a banda sonora The Goonies ‘R’ Good Enough e o sucesso foi estrondoso. A história é simples e povoou o imaginário infantil e juvenil da pequenada da época. Um grupo de cinco amigos encontra num sótão um mapa do tesouro. Mítico. A cena que se segue é partir em busca da riqueza, embarcando em todas as aventuras que isso traz. No decorrer da ação, outras personagens se juntam à aventura e, entre armadilhas, cavernas e passagens subterrâneas, estes miúdos, que enfrentam os maus, são destemidos e lutam sem medo. Corey Feldman, que na altura era apontado como um promissor ator, é um dos protagonistas do filme.  

Desesperadamente Procurando Susana

E o ano de 85 continua a surpreender... Sim, Madonna também entra neste leque. O álbum Like a Virgin, que tinha sido lançado há poucos meses (em 1984), começava a dar os primeiros ares da sua graça. O tema que dava nome ao álbum, cujo teledisco tinha sido gravado em Veneza, começava a ser um sucesso e eis senão quando a cantora se estreia também como atriz, no grande ecrã, ao lado de Aidan Quin e de Rosana Arquette. O filme era light e, na altura, muito se disse sobre a personagem de Madonna, que em muitos aspectos se assemelhava àquela que ela queria fazer passar aos fãs como artista. O mesmo look, as mesmas roupas. No fundo, o filme acaba por funcionar, voluntária ou involuntariamente, como uma bela ação de marketing. Conta-se que, na altura em que estava a fazer o filme, Madonna também estava a fazer uma dieta rigorosa, razão pela qual vomitava sempre que terminava de gravar uma cena em que tinha de comer. Stephen Ray, produtor musical, contou numa entrevista que deu na época que chegou a compor e a gravar uma canção com o mesmo nome do título do filme, Desperately Seeking Susan. Contudo, essa música nunca saiu porque a artista não permitiu que fosse lançada.

Regresso ao Futuro

Era (e é) comum entre os mais novos fazer-se o exercício de imaginar como será a sociedade daqui a 20 ou 30 anos. Robert Zemeckis seguiu a tendência e brindou a malta, não com uma visão de como seria o futuro, mas uma retrospetiva mais ambiciosa e que raramente se fazia: como terá sido o passado. McFly, o protagonista do filme, teve essa oportunidade, andando para trás no tempo, até 1955 – através de um carro que funcionou como máquina do tempo –, onde conhece os futuros pais na escola secundária. Depois, McFly viveu a aventura inversa ao regressar ao presente, o futuro do passado, portanto. Vários estúdios recusaram o guião, até que a Universal Pictures o aceitou, quando Steven Spielberg assumiu a produção executiva. O filme foi de tal ordem um megassucesso que deu origem a mais dois. Um passado, efetivamente, no futuro e outro num passado longínquo, no Oeste, no tempo dos cowboys.

Uma década de ouro 

Os anos 80 foram, indiscutivelmente, ímpares ao nível cinematográfico. A década que se seguiu aos ideais do flower power e à contracultura foi marcada pelo conservadorismo e o individualismo. Nos Estados Unidos, onde tudo é vivido a uma escala muito maior do que no resto do mundo, surgiram os yuppies – termo vindo de young urban professional –, que não são mais do que jovens profissionais urbanos, altamente competitivos e preocupados com a imagem. Pedro Rolo Duarte não vivia nessa realidade. Estava em Portugal, tinha 21 anos e dava os primeiros passos no jornalismo. Enquadrava a redação do jornal SE7E, o único que, na época, divulgava as artes, o espetáculo e a cultura. Pedro Rolo Duarte assume que houve alguns filmes deste mítico ano de 1985 que o marcaram profundamente. “África Minha ficou para sempre, A Cor Púrpura deu-me a dimensão da grandiosidade do cinema e nomes como Steven Spielberg ou Sidney Pollack marcaram para sempre o jovem espetador e jornalista que então eu era”, conta.  Apesar de nunca ter sido um grande admirador de estrelas, o jornalista confessa que gostaria de entrevistar alguns realizadores que marcaram tanto aquele ano como qualquer outro ou até mesmo a atualidade: “Nunca fui fascinado por elencos e stars. Gostaria de ter entrevistado um Spielberg, um Oliver Stone, um Woody Allen, os irmãos Cohen. Mais realizadores do que atores.”

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